DeLorean DMC-12: O Sonho de Aço
DeLorean construiu um carro inovador em aço inoxidável
Deveria durar muito, mas só viveu dois anos
Um carro com carroceria feita em aço inoxidável foi fabricado na Irlanda do Norte, em Dunmurray, a 10 quilômetros do centro de Belfast, a capital. Lá, de 1981 ao final de 1982, funcionou a DeLorean Motor Company (DMC).
Foi fundada em 1973, em plena crise mundial do petróleo, mas seus automóveis só ganharam as ruas no começo da década de 80. Seu fundador John Zachary DeLorean, bem-sucedido executivo da General Motors, fez uma carreira brilhante na Packard, no início dos anos 50, e depois no grupo GM, onde ingressou com apenas 24 anos de idade. Na divisão Pontiac, chegou a engenheiro-chefe, e na Chevrolet, diretor-geral. Na Pontiac criou e desenvolveu o projeto dos famosos GTO e, mais tarde, a linha Grand-Prix . John Zachary DeLorean chegou à vice-presidência da GM.
As linhas do DMC-12 não inovavam, mas reuniam soluções ousadas de esportivos do passado, como o vigia traseira em persianas. Mas John DeLorean não estava contente, apesar do gordo salário anual de 650 mil dólares. Ele queria mais, tinha um sonho: ter sua fábrica de automóveis e até ensinar a GM como se fazia um carro.
A ideia do novo carro-esporte, com carroceria em aço escovado, foi brilhante. Chamava-se DMC-12. O desenho era inovador, mas empregava soluções de carros do passado. As portas em “asa-de-gaivota! eram baseadas nas do Mercedes-Benz 300 SL (leia história). O vigia traseira em persianas já tinha sido adotado no Lamborghini Miura e no Lancia Stratos (saiba mais) , só para citar os mais famosos.
As portas ao estilo “asa-de-gaivota”, que se abriam para cima, conferiam ar futurista ao carro de aço inoxidável criado por John DeLorean
O responsável pelo projeto foi o famoso Giorgio Giugiaro, que já tinha realizado obras de arte como o Miura, o De Tomaso Mangusta, o Maserati Ghibli, o Alfa Romeo GTV (Leia mais), o Volkswagen Passat (Leia mais), Golf, Scirocco, o Fiat Dino e o Lotus Esprit (Leia mais). Reunia soluções como a carroceria em aço escovado, chassi Lotus em Y e motor PRV (Peugeot-Renault-Volvo) com seis cilindros em “V” e 2,8 litros, que em princípio seria adotado na posição central, mas depois, por problemas técnicos, ficou alojado atrás do eixo traseiro, com câmbio do francês Renault Alpine A310. Além de muito bom, o carro era relativamente fácil de manter, graças a peças comuns a vários modelos do mercado europeu, encontradas sem problemas até hoje. A supervisão do projeto era de Colin Chapman.
John DeLorean queria um carro para durar de 20 a 25 anos e que não ficasse obsoleto em pouco tempo. No primeiro protótipo foi utilizado um motor do Citroën CX, de dois litros e 102 cavalos. Mostrou-se antiquado e fraco para as características do esportivo. O carro deveria ser leve, mas a realidade era outra.
O motor PRV se mostrou mais adequado. Era um ótimo propulsor, equilibrado, robusto e moderno, mas não chegava a entusiasmar no DMC-12. Tinha um desempenho modesto se comparado a seus concorrentes. John DeLorean visava aos compradores de Corvette nos EUA, seu mercado de ataque, mas seu carro não andava muito mais que um Mustang V8, de desempenho inferior ao esportivo da Chevrolet. O carro de aço fazia de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos e chegava a quase 200 km/h.
Depois da fracassada tentativa com um motor de Citroën CX, o PRV V6 de 2,8 litros mostrou eficiência, mas desempenho apenas razoável no DeLorean.
Com 65% do peso na traseira, o comportamento do carro era bom e não era difícil de ser dirigido. Mas o motor traseiro, apesar do sucesso dos Porsche 911 nos EUA, não agradava muito aos americanos pela má fama deixada pelo Chevrolet Corvair.
Quando o carro começou a ser vendido, a publicidade dizia “DeLorean – Viva o sonho”. A nova atração na indústria automobilística chamava a atenção. Era um carro bonito, com quatro faróis retangulares na dianteira, grade com frisos pretos horizontais e logotipo DMC ao centro. Visto de lado era notável seu perfil baixo, com dois vidros laterais separados por uma pequena grade preta vertical. As rodas raiadas tinham um desenho simples e discreto.
Na traseira, grandes lanternas em segmentos quadriculados. Ao centro, um painel preto e, acima na tampa traseira, um discreto aerofólio e a vigia em forma de persianas. Quando abertas as portas, capô e porta-malas impressionavam muito.
O revestimento dos bancos, forrações e volante era todo em couro. Trazia coluna de direção com inclinação regulável, toca-fitas, ar-condicionado, vidros verdes com acionamento elétrico, painel com boa instrumentação, controle térmico interno, dupla vedação contra mau tempo. Tudo que um carro de luxo da época podia oferecer, mas era um carro caro face à concorrência, por ter características exclusivas.
Alguns donos cansaram-se da única cor oferecida e pintaram por conta própria seus carros. Foram fabricados 7.400 modelos em 1981 e, até o fechamento da fábrica no final de 1982, outras 1.800 unidades. Os estudos de mercado não foram bem feitos e os carros encalharam nas concessionárias.
Mas marcou por ter um estilo próprio, soluções interessantes, mesmo que não fossem originais, e causou certo furor. Hoje são bem procurados por colecionadores e valem cerca de 30.000 dólares se bem conservados. Não têm problemas de ferrugem… Mas alguns foram pintados, pois mesmo se tocado pelo dedo polegar, a marca ficava e o carro precisava sempre de ser polido.
Seu comportamento dinâmico era bom, mas os americanos ainda guardavam na memória o insucesso do motor traseiro do Chevrolet Corvair.
Há muita controvérsia sobre o fechamento da fábrica fundada por John DeLorean. Ele fez vários acordos com o governo britânico, prometendo inclusive reduzir os problemas sociais da Irlanda. Envolvimento com drogas para saldar dividas, pressão de grandes fábricas e outros fatores, que nunca ficaram claros e muito menos provados, causaram o fim deste automóvel único.
Seu idealizador faleceu em 19 de março de 2005, na cidade de Summit, estado de Nova Jersey, Estados Unidos. Foi considerado um dos maiores aventureiros da história do automóvel.
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Nas telas
O DeLorean DMC-12 era a máquina do tempo na trilogia De volta para o futuro (Back to the future), filmes que fizeram enorme sucesso em 1985, 1989 e 1990. Sua estreia foi em 1985 e esta sem dúvida foi sua maior propaganda. Ficou conhecido nos quatro cantos do mundo e por pessoas de todas as idades que gostam de ficção científica. Foram usados três carros sendo que um foi cortado para fazer cenas internas.
O carro fez a plateia vibrar no primeiro filme e nas duas continuações, estrelados por Michael J. Fox e Christopher Lloyd. Tinha acessórios pouco ortodoxos que faziam dele um laboratório ambulante. Incontáveis fios e canos na parte externa e, na traseira, algo como dois propulsores a jato davam o toque futurista.
Em escala
Existem miniaturas 1:43 à venda, fiéis ao modelo das telas, nas lojas que estão na Universal Studios, em Orlando, Flórida, EUA.
Ficam na saída do espetáculo temático Back to the Future, onde os visitantes dão uma “volta” emocionante no DMC-12, baseada em cenas da trilogia.
A americana Hot Wheels também fez o modelo original nas cores prata e dourado na escala 1/60. Recentemente mais outra como a do filme com as rodas paralelas ao piso, mostrando que o carro estava pronto para “voar”.
Ficha técnica básica
Motor: Longitudinal traseiro; Seis cilindros em “V”; duas válvulas por cilindro. Cilindrada: 2.850 cm³ com válvulas no cabeçote. Taxa de compressão: 8,8: 1. Injeção de combustível Bosch K-Jetronic. Potência máxima: 144 cavalos a 5.500 rpm.
Câmbio: Manual com cinco marchas ou automático com três marchas; tração traseira.
Rodas: Dianteiras, 14 x 6 polegadas; traseiras, 15 x 8 polegadas. Freios a disco nas quatro rodas. Suspensão independente com braços paralelos.
Dimensões: Comprimento: 4.267 metros, altura 1.140 metros e peso da ordem de 1.233 quilos. Capacidade do porta-malas: 400 litros.
Desempenho: Velocidade máxima: Cerca de 200 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos.
Premiação
Foi premiado no Brazil Classics show em 2016, XXII Encontro nacional de automóveis antigos em Araxá, Minas Gerais.
O Retorno
Em julho de 1983 uma empresa de Ohio adquiriu todos os equipamentos da empresa e automóveis restantes e passou a vendê-los em Irvine na Califórnia por 21.000 dólares e oferecia até cinco anos de garantia ou 50.000 milhas.
Em 1997, o inglês Stephen Wynne comprou os direitos da DeLorean Motor Company e um armazém da mesma empresa em Houston, Texas. Lá ele vende DMC-12 restaurados. Em 2008, foi reiniciada a produção do esportivo. Atualizado vinha com o motor PRV( Peugeot Renault Volvo) V6, com 197 cavalos de potência, faróis de xenônio e CD Player e custa por volta de US$ 35.000,00 (com motor básico de 145 cavalos, ar condicionado, coluna telescópica ajustável em distância e altura, rodas de liga leve, seis meses de garantia. O modelo com opcionais custa 48.895 dólares.
Texto, fotos e montagem Francis Castaings. Demais fotos de publicação
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