Alfa Romeo Giulia Tipo 103: 60 anos em 2022
A Anonima Lombarda Fabrica Automobili. Alfa Romeo sempre foi um tradicional fabricante de carros rápidos, bonitos e apaixonantes. E sempre um orgulho para os italianos. Foi fundada em 1906 pelo francês Alexandre Darracq, que era um construtor de carros de corridas e a partir de 1914 começou a ser dirigida por Nicola Romeo.
No começo da década de 50 começava o tempo de retomada para muitas empresas europeias que, ou foram muito danificadas por causa da Segunda Grande Guerra Mundial ou tiveram suas instalações destinadas para outros fins que não os automóveis. No caso da Alfa Romeo, nesta época sombria para o velho continente sua produção foi destinada a motores de aviões e tanques de guerra. Em outubro de 1950 já havia o sedã 1900.
Começava outra vez a produção de belos carros. Seus produtos principais eram o C6 2500 que estava em fim de carreira e o novo e atraente cupê 1900 SS abaixo derivado do 1900 sedã.
No final desta década já haviam os modelos 2600 que deu origem ao nosso FNM 2000 (saiba mais) e a famosa linha Giullieta, apresentada em 1954, que deu início a retomada de sucesso da empresa e. expansão das instalações da fábrica de Milão.No começo dos anos 60, já era a segunda empresa automobilística italiana em produção.
Novos projetos modernos estavam em andamento. Começava a Operação Giulia ou o projeto Tipo 103 como era conhecido internamente. Em 1959 já rodavam os primeiros protótipos que denunciavam as futuras linhas.
Maquetes na escala 1/18 eram trabalhadas em gesso. No túnel de vento já era realizado teste aerodinâmicos. Nos laboratórios eram realizados diversos ensaios. Os testes de ergonomia com modelos em madeira simulava um adulto ao volante. Os mecânicos levavam aos limites o câmbio, motor, suspensão e outros componentes. No caso do motor, foi submetido ao giro máximo como se fizesse uma viagem de Nápoles a Milão que corresponde a mais ou menos 850 quilômetros.
Um equipamento pneumático simulava as passagens de marchas. Cerca de 50.000 em terceira, quarta e quinta e cerca de 20.000 em primeira, segunda e terceira. Testava a resistência de sincronizadores, engrenagens e outros componentes. As rodas foram testadas numa hipótese de estar fazendo a curva de Lesmo, no autódromo de Monza, 20.000 vezes a 120 km/h. E não houve rupturas ou deformações. A carroceria era submetida, em câmeras especiais, a temperaturas que variavam de – 30º C a 60º positivos. Esta simulando as altas temperaturas africanas.
Vários componentes do motor eram originários de experiências adquiridas em competições ou de carros de série bem sucedidos. As câmaras hemisféricas e o duplo comando de válvulas vinham do modelo 1900 SS. As válvulas refrigeradas a sódio da Giullieta Sprint Veloce Mille Miglia de 1956. O dínamo e o motor de arranque da Giullieta Sprint Veloce que havia participado das 24 de Le Mans em 1958. O coletor de escape de alta resistência vinha do Disco Volante 3.500 e 2000.
A geometria de suspensão do Giulietta TI e SZ (acima) que correram a Targa Florio de 1958. Até nas partes da carroceria. No caso do futuro modelo sedã, a traseira ligeiramente truncada era baseada na segunda versão do Giulietta SZ 1300.
A pista de Arese, cidade que também abrigava uma das unidades fabris, estava sendo utilizada com exaustão para os testes dinâmicos. Esta pista, com 1.700 metros de comprimento, que serve hoje de encontro de “alfistas” saudosos, simulava muito bem a realidade de ruas e estradas nas mais diversas condições. Tem curvas com o mesmo traçado e inclinações de Monza e Zandvoort. Retas grandes com áreas de aceleração e frenagem. Partes com paralelepípedo e trechos que simulam o fora de estrada ou submersão para testar infiltrações. Ainda, pista circular para testar a estabilidade dos novos produtos.
Finalmente, em 1962, era lançada uma Alfa Romeo Gilulia Tipo 103.O sedã de quatro portas de estilo interessante era bonito, tinha desenho moderno e muito equilibrado. O modelo de três volumes tinha 4,14 metros de comprimento e peso de 980 quilos em sua versão básica. Na frente a grade cromada tinha o famoso “cuore” identificador da marca e faróis circulares nas extremidades. A traseira levemente truncada misturava linhas retas e arredondadas. Familiar, transportava com conforto cinco adultos. Com bom acabamento e bom gosto nos materiais de construção, a empresa fazia bela combinação de cores no interior tornando-o muito aconchegante. Um exemplar de cor externa verde poderia vir com os estofados marrom.
Na versão de entrada seu motor dianteiro, em posição longitudinal, refrigerado a água, tinha quatro cilindros em linha, 1.290 cm³ e potência de 89 cavalos a 6.000 rpm. Sua taxa de compressão era de 8,5:1 e o torque máximo era de 12 mkg. Com duplo comando, suas válvulas eram no cabeçote. Este, de alumínio tinha câmeras hemisféricas. Era alimentado por um carburador de corpo duplo da marca Solex. A caixa de marchas tinha quatro velocidades e sua tração era traseira. A velocidade máxima era de 155 km/h.
A versão TI, se diferenciava logo a primeira vista pelo grupo óptico de quatro faróis circulares. Mais potente tinha 1.570 cm³ e 106 cavalos. O torque máximo passava a ser de 14,8 mkg a 4.000 rpm. Pesando 50 quilos a mais tinha a velocidade máxima de 165 km/h. Nesta, mais nervoso, dispunha da famosa caixa de marchas de cinco velocidades.
Por dentro, outra tradição era o belo volante de madeira de ótima empunhadura. A alavanca de marchas, levemente inclinada para trás, tinha ótima pega e estava posicionada muito bem. Em todos os Alfas ela sempre ficou mais alta e perto do volante. No banco o motorista instalava-se muito bem. A posição de dirigir era ótima. O painel tinha boa instrumentação e contava com velocímetro com marcação até 220 km/h, conta-giros com pontuação até 8.000 rpm, marcadores de temperatura de água e óleo. O acabamento era correto e a sensação de estar dentro do cupê ou do sedã era muito agradável. No cupê se dirigia em posição mais baixa. Atrás adultos só em caso de urgência.
A posição dos pedais de freio e embreagem não era muito elogiável. Não eram suspensos e motoristas mais robustos tinham menos dificuldades.
O motor, em liga de alumínio tinha 1.779 cm³, bem alimentado por um dois carburadores duplos da marca Weber desenvolvia 118 cavalos a 5.000 rpm sendo seu torque máximo de 17.4 mkg a 3.000 rpm. Sua performance era bem mais interessante. Chegava aos 100 km/h em 9,5 segundos, e a máxima apresentava ótimos 190 km/h.
A zona vermelha do conta-giros começava aos 6200 rpm.O painel era equipado com conta-giros, velocímetro generosamente graduado até os 220 km/h(comum em vários Alfas, até no nacional 2300…), e dois pequenos relógios: Um, a extrema esquerda que era o nível de gasolina mais pressão de óleo e outro, ao lado do velocímetro que era marcador de temperatura de água e óleo.
Sua suspensão contava com braços triangulares inferiores, braços superiores simples, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Atrás, como no sedã, mas com outra calibragem, tinha eixo rígido, molas helicoidais, amortecedores telescópicos e barras estabilizadoras. Já contava com pneus mais modernos na medida 165 x 14. Os freios continuavam a ser a disco nas quatro rodas mas contavam com duplo circuito e assistência.
Em 1969 a linha do sedã contava com três modelos. Eram o 1300 TI, o GT 1300 Junior e o 1600 Super com potências de 94, 103 e 116 cavalos respectivamente. Suas velocidades finais eram de 160, 170 e 175 km/h para o modelo mais potente da gama.
Por dentro era muito bem vinda a pedaleira suspensa. Mais leveza para o motorista. Contava com mais conforto com novos descansa braços laterais e novas maçanetas tanto para levantar vidros e abrir portas. A alavanca do freio de mão passava para o meio dos bancos dianteiros. Antes ficava debaixo do painel. Neste havia nova instrumentação. Tinha desenho mais moderno e mais luxuoso. Os bancos também tinham novo desenho e eram mais confortáveis. O interior estava muito mais ergonômico. Devido ao novo arranjo interno o porta-malas também estava maior. Havia também uma regulagem de altura para o farol externo.
Em junho de 1974 chegava a “Nuova Giulia”, ou seja, o sedã havia recebida uma plástica. Os “cirurgiões” haviam caprichado. Na traseira havia ainda o rebaixamento central, mas sem a identificação do modelo. Estava com porta-malas um pouco maior. Ganhava também novas lanternas.
A frente estava bem mais bonita e moderna. Ganhava para-lamas com novo desenho e também novo capô mais plano e nova grade e faróis. Continuavam quatro circulares mas com diâmetro maior. A grade de fundo preto também ganhava novo desenho e dimensões maiores. Só um friso central metálico e o coração se destacava mais. Era quase um novo carro.Em 1974 tinha a traseira sem os ressaltos. Estava plana.
Para a decepção de muitos o sedã recebia uma motorização diesel. Contava com 1.760 cm³ e 52 cavalos a 4.000 rpm. Sua taxa de compressão era de 22:1 e a velocidade máxima de 140 km/h. O Giulia, este charmoso nome ficou em produção durante toda uma geração, todas as cilindradas aí incluídas, até 1977. Um versão perua foi fabricada pela empresa Carrozeria Colli. Somente 16 unidades. Outros independentes também fizeram em poucas unidades. Uma versão sem capota e sem portas servia para visitantes visitarem a fábrica. Hoje está no museu histórico da marca milanesa.
Durante uma dezena de anos a carroceria evoluiu muito pouco: a grade, os faroletes traseiros, a parte interior (painel e bancos) foram as únicas partes que sofreram um ligeiro “lifting”.O corpo da carroceria não sofreu (felizmente) modificações tanto na versão Bertone quanto na sedã.Ao todo foram 570.000 exemplares.
Nas Pistas
Os Alfas em terras brasileiras tiveram muito destaque nos anos 60 com os nossos FNM 2000. No Brasil uma das equipes mais famosas que competiram com os Giulia foi a Equipe Jolly.
O italiano Emilio Zambello era dono de concessionária Alfa Romeo em São Paulo e fundou além da revenda, a equipe de competições junto com seu patrício Piero Gancia . Participa de ralis regionais na Europa. Abaixo e acima dois belos modelos.
Gente muito famosa naquela época corriam com os carros. Nem eram pilotos. Mas enfrentavam equipes oficiais fortes como a Simca, a Willys e a Vemag. Os GTA, Giulia Bertone comuns e sedãs foram sucesso em varias provas. E a concorrência aumentava com a chegada de novos concorrentes de peso como o Alpine, Malzoni-DKW, Simca-Abarth, Fitti-Porsche.
A Jolly colecionou várias vitórias. Foram elas :
- Em 1966 os 1000 Quilômetros de Brasília com a dupla Piero Gancia e Marivaldo Fernandes pilotando um Alfa Giulia.
- Também neste ano as 24 Horas Interlagos com a dupla Emilio Zambello e Ubaldo César.
Um especialista “Alfista” preparou vários carros vencedores. Era Giuseppe Perego. Não importava se as provas eram de longa ou curta duração. O pequeno bólido fazia manchete.
O empresário Piero Gancia acabou se tornou campeão brasileiro de 1966, e também ganhou o primeiro Ranking Brasileiro de Pilotos promovido pela revista Auto-Esporte, em 1967.
Em Escala
A Solido francesa fez um modelo Giulia Super TI na cor azul marinho, escala 1/43. Correta.
As fotos dos carros de rali são do site parceiro https://www.newsclassicracing.com/
Texto, fotos e montagem Francis Castaings. Fotos sem o logo do site são Clube Alfa Romeo Argentina
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