Dino Berlinetta GT. Em nome do Filho

Dino Berlinetta GT. Em nome do Filho

Rejeitado pelos puristas, o Ferrari Dino 246 GT marcou época pelo estilo e desempenho

Desde o final dos anos 40, a casa de Maranello encanta o mundo automobilístico nas pistas com suas máquinas vermelhas. Nos anos 50 elas passaram a ter versões civis, adaptadas às estradas rápidas de toda Europa. Nas versões de pista as atenções da fábrica convergiam para as Fórmulas 1, 2 e protótipos. Desenvolviam-se motores V12 para a F1 e protótipos e um V6 estreante destinado à Fórmula 2.  Este V6,  batizado como Dino, era em homenagem ao filho único  do Comendador com o cujo nome era Alfredo Enzo. Nascido em Moderna no dia 26 de março de 1932 ele morreu precocemente em  30 de junho de 1956 devido a uma doença muscular degenerativa. Seu apelido era Alfredino e faleceu pouco antes de ver um motor com seu nome funcionando. Era obra dele o projeto. Tratava-se de um motor de 1,5 litro, seis cilindros em “V”, um sistema de distribuição inédito, duplo comando de válvulas que seria usado em um carro de fórmula 2 na temporada de 1957. Como o pai, também era um fanático por carros e mecânica. Era talentoso e seria o herdeiro que o Comendador desejava para dar continuidade a sua obra.

Em 1964 começou um estudo na famosa casa italiana Pininfarina de um esportivo pequeno para a casa de Maranello a pedido de Enzo Ferrari. A intenção era produzir um Ferrari com preço mais acessível.

No ano seguinte, era apresentado no Salão de Paris o protótipo Dino 206 Berlinetta Speciale desenhado por Aldo Brovarone. Era um esportivo muito baixo com linhas muito aerodinâmicas. Curiosamente tinha volante do lado direito, para facilitar a saída do piloto em corridas, já que os boxes ficam nesta posição e inspiração clara nos carros de pista. Tinha um motor de 1,6 litro, carter seco e dupla ignição. Hoje, esta raridade está exposta no Museu de Le Mans (Veja em Retromobile). Em 1966 , no Salão de Torino, na Itália, era apresentado uma evolução do primeiro modelo, com características mais urbanas que se chamava  Dino Berlinetta GT. Mas ainda não era definitivo.

Era um belo carro, escultural, com para-brisa bem inclinado. Construído sobre um chassi de competição, com carroceria de alumínio construída pela competente empresa Scaglietti em Modena. O chassi era tubular. Montada, era enviada a Maranello para receber a parte mecânica.

Seu motor era longitudinal e o capô traseiro para mostrá-lo  era imenso. Tinha dois faróis circulares incrustados nos para-lamas e quatro pequenas entradas de ar retangulares de cada lado do capô. Um ano depois era apresentado o modelo Dino 206 GT. O motor traseiro era potente, tinha 1.987 cm³ com potência de 180 cavalos. Desenvolvido pelo competente engenheiro Aurélio Lampredi era performante. O torque máximo era de 19 mkg a 6.600 rpm. Contava com cabeçote e motor em alumínio e o conjunto pesava pouco mais de uma tonelada. Nos testes efetuados pela imprensa,o esportivo atingiu os 235 km/h. Foram produzidas 152 unidades e o patrão da empresa, Sergio Pininfarina, fazia uso diário do esportivo. Mas não tinha o escudo da Ferrari no capô dianteiro (cavallino rampante). Mas atrás havia a inscrição cromada Ferrari!

Em 1969 era apresentado no Salão de Genebra, na Suíça, o esportivo Dino 246 GT. Era seis centímetros maior que o 206. Media 4,21 metros de comprimento, apenas 1,15 de altura e pesava 1.080 quilos. Nem muito grande nem muito pequeno. Com linhas agressivas, tinha um capô curto dianteiro, sem protuberâncias, bem inclinado e fino. Só cabia o pneu estepe e por baixo dele a bateria. Instalado no posto do motorista,  vendo os dois para-lamas em destaque, tinha-se a sensação de estar dentro de um verdadeiro bólido de corridas.Visto de lado era muito bonito. Saia um vinco das portas, de forma cônica, que servia de entrada de ar para o motor central traseiro.

O Dino 246 GT trazia um belo motor em posição transversal, traseiro, posicionado logo atrás da cabine. Era um motor central para as ruas, uma experiência vinda das pistas. Tratava-se de um seis cilindros em “V” com ângulo de 65º. Arrefecido a água, seu deslocamento volumétrico era de 2.418 cm³. O bloco motor era em ferro fundido e o cabeçote, carter e a carcaça da transmissão eram em liga leve. O peso do propulsor era de 150 quilos. Este conjunto era produzido nas fundições da Fiat.

Tinha duplo comando de válvulas e virabrequim com quatro mancais. Sua potência era de 195 cavalos a 7.600 rpm. Era alimentado por três carburadores duplos Weber 40. O torque máximo era de 23 mkgf a 4.800 rpm e a taxa de compressão era de 9:1. Com chassi tubular, era capaz de vencer os 1.000 metros em 27,3 segundos, tempo que não faria feio hoje, e alcançava a velocidade final de 240 km/h.. Até 100 km/h levava 7 segundos. Muitos modernos passariam apertado com ele hoje ! O som da admissão dos três carburadores Weber duplos era indescritível. O mesmo motor levou o imbatível Lancia Stratos a várias vitórias em mundiais de rali. 

A versão 246 GT tinha a carroceria em aço com algumas partes em poliéster. Na traseira, havia dois capôs, um para o motor (com acesso pouco confortável para manutenção) e o outro para as bagagens que era razoável para um carro esporte. A visão deste ângulo era interessante por causa dos quatro faroletes circulares e também dos quatro canos de descarga que anunciavam a potência.

No capô dianteiro iam o estepe, a bateria (no ponto mais baixo do carro) e o radiador. Atrás do banco do motorista havia três alavancas para a abertura destes capôs. Acima da grade oblonga e no volante da marca Momo com aro de madeira e três raios em alumínio, em vez do cavallino rampante, via-se a marca Dino. Mas atrás, sobre a placa de identificação havia a inscrição que identificava a raça italiana. O para-brisas inclinado permitia ao piloto/motorista ter boa visibilidade. Para os lados era razoável e para trás era muito limitada. Coisas de esportivo. Era um belo carro com linhas curvas muito femininas.

O painel, com fundo em aço escovado, era bem completo e bonito. Trazia oito mostradores. Os maiores eram o conta-giros e o velocímetro. Carregava também manômetro de óleo, amperímetro, marcador de temperatura da água e do óleo, nível do tanque de gasolina e relógio de horas.  O acabamento não empregava materiais nobres. Era despojado porém correto. Mas os proprietários reclamavam da ventilação insuficiente e do calor excessivo. Os bancos esportivos tinham apoio para a cabeça e eram envolventes. Tinha diferentes padrões de acabamento. Confortáveis para dois.

Para o motorista havia a pedaleira suspensa. Para o passageiro apoio para os pés. Muito recomendável e usado em velocidades mais altas. A cor vermelha era a mais vendida. Mas os clientes gostavam também do amarelo que fazia muito sucesso e também do azul, prata ou branco. A caixa de marchas, da marca ZF (Ferdinand von Zeppelin), contava com cinco velocidades, como é tradição da empresa a grelha metálica estava lá. Sua tração era traseira.

A suspensão dianteira e traseira eram independentes. Tinha trapézios montados transversalmente, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Tinha barras estabilizadoras na frente e atrás. Este pequeno bólido tinha comportamento neutro era muito bom de curvas saindo de traseira no limite de aderência e não era arisco. A direção à cremalheira era precisa e proporcionava boas trajetórias. Usava pneus 205-70 VR 14 e rodas que podiam ser de aço, alumínio ou mistas. Eram da marca Cromodora com cubo rápido central. Os freios a disco nas quatro rodas eram da marca ATE em substituição aos Girling. O tanque, que tinha o formato nada convencional, parecia um bloco trapezoidal. Sua capacidade era para 70 litros de gasolina. O consumo, dado pouco importante na categoria, era de 5 km/l com o pé colado.

Seus concorrentes na península eram o Alfa Romeo Montreal, o Lamborghini Urraco, o De Tomaso Pantera e o Maserati Merak. Na França  o Ligier JS2, na Inglaterra o Jaguar E-Type e na Alemanha os Mercedes 350 SL e o Porsche 911 S. A exceção do Porsche, todos tinham o posicionamento dos cilindros em “V”. O Dino era o mais barato Ferrari e custava quase a metade de seu irmão 365 GTB/4 também chamada de Daytona sendo que este “apelido” era detestado pelo Comendador.

A versão GTS foi apresentada no Salão de Genebra em 1972. Muito interessante, seguindo o estilo Targa da Porsche,  era um semi-conversível: apenas parte do teto era removível, indo para trás dos bancos. Este era feito em poliéster e sempre na cor preta. Dentro da coluna B havia um arco de segurança. Pouco mais pesado, para dar maior rigidez à carroceria, que o modelo de origem, mantinha o mesmo bom desempenho.

Neste mesmo ano, já contava com controles elétricos de vidros, bancos em couro Connolly , o volante Momo passava a ser todo de couro, rodas Campagnolo mais largas com cinco furos, faróis carenados e proteção da grade dianteira — exclusiva para o mercado britânico, a pedido de um importante importador inglês, a Maranello Concessionaires. E também com ar condicionado tanto nesta versão quanto na fechada.

O GTS não era bem vendido na Europa, mas seu mercado na Flórida e na Califórnia, nos Estados Unidos, era muito bom. Tinham algumas diferenças como luzes de setas nas laterais, reforço nas portas, filtros antipoluição que o deixavam menos potente. Produzido até 1974, a versão GT, teve em sua carroceria poucas mudanças. Apenas detalhes. O GTS continuou sendo produzido por mais seis meses. Ao todo 2.487 modelos 206 e 246 ganharam as ruas sendo que foram produzidos 1.274 da versão GTS.

Já sobe a batuta do grupo Fiat, o desejo era que a Ferrai produzisse um V8 com carroceria 2 + 2 e desenhado por Bertone. Assim em 1973 nascia a linha 308 GT 4. Subestimado pelos puristas, que diziam ser “um falso Ferrari”, no final dos anos 70 o Dino não valia muito. Hoje, em bom estado, um modelo 206 vale 86.000 Euros, o 246 GT chega65.000 e o GTS 80.000 Euros.

O substituto Dino 308


Um Ferrari Dino 246 BHR01 da categoria Historic Grand Prix Cars Association Pre-1961 e Pre-1966


Nas telas

No seriado, de produção franco-britânica, o sofisticado Persuaders fez muito sucesso na década de 1970 na Europa e também foi passado no Brasil anos depois. Dois milionários, um inglês, outro americano, combatem o crime organizado. Um modelo Dino 246 GT vermelho sempre aparece nos episódios. Pertence a Tony Curtis (1925-2010) , ator americano que interpreta o milionário Danny Wide. Ele ridiculariza seu companheiro de investigações Roger Moore que faz o papel do excêntrico lorde inglês Brett Sinclair por possuir um Aston Martin DBS, referindo-se ao automóvel como “Penélope amarela” por causa de sua cor. Em vários episódios, a fera vermelha mostrou as garras. Veja um trecho

Curiosidade: A série acabou pelo fato de Roger Moore, falecido em maio de 2017, ter sido chamado para viver James Bond no filme Viva e deixe Morrer (Live and Let Die) em 1973.


Filme sobre a vida de Enzo Ferrari

Foi anunciado em 2017 um novo filme cujo ator australiano Hugh Jackman, famoso por interpretar Logan, o Wolverine do X-Men, viverá o grande Enzo Ferrari, numa produção que começou a ser rodada em 2018 e baseada no livro Enzo Ferrari: The Man, the Cars, the Races, publicado por Brock Yates em 1991. Este é um sonho que será realizado pelo diretor Michael Mann há anos. Infelizmente não chegou as nossas telas.

Em 2003, foi feito para a TV, o filme italiano Ferrari, que é um drama que conta a saga desta famosa família italiana do mundo dos automóveis. Enzo Ferrari: A Paixão de um Homem. Foi dirigido por Carlo Carlei . O ator Sergio Castellitto faz o papel de Enzo Ferrari e Matthew Bose o de Dino Ferrari. Merece ser visto. Muito bom!

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Em Escala

Abaixo na escala 1/43 um modelo Maisto.

Num diorama simples, mas correto a Bburago italiana oferece este na escala 1/43.

O modelo Spider vendido em bancas também na escala 1/43.

Outro Maisto na escala 1/43

A famosa empresa inglesa Matchbox fez uma bela miniatura nos anos 60 do modelo 156 F1. Na escala 1/54 media 70 milímetros.

No Brasil, numa promoção da Shell, foi vendida em postos de gasolina, miniaturas da Ferrari. Na escala 1/43, havia o modelo Dino de Fórmula 1 e o 246 GT. Estes, ambos vermelhos, são da marca Maisto feitas na Califórnia mas também na Tailândia e em Hong Kong. Corretos para a escala. Interessante, feita pela marca americana Hotwheels, a pequena coleção Bruce Wayne (Batman) que conta com três modelos. E lá está, na cor preta, um Dino 246 GTS Spider. Sobre uma plataforma, vem com o mordomo Alfred junto. Bem interessante. Todos na escala 1/60.

Também da Hotwheels, mas em escala 1/18, o Dino preza pelo bom acabamento e detalhes. Abre o capô dianteiro, os dois traseiros, as portas e as rodas esterçam. Os cromados são destacáveis assim como as rodas e o motor detalhado. Linda!

Na mesma escala a Anson, de origem chinesa, também produziu. Tão detalhada quanto a da Hotwheels, merece o mesmo respeito.

O primeiro Ferrari Fórmula Um com motor traseiro foi o 156, conhecido como Dino e também como “Nariz de Tubarão”. Seu motor V6 tinha cilindrada de 1.476 cm³ e 190 cavalos. Campeão mundial com o americano Phil Hill em 1961.


Nas Pistas

Este motor obteve vários sucessos nas pistas e em meados da década de 60. Seu nome veio do único filho do comendador Enzo Ferrari e de sua esposa Laura. Chamava-se , Alfredo Ferrari. Os mais íntimos chamavam-no de Alfredino ou simplesmente Dino

O comendador colocava todas as suas esperanças em seu sucessor, um técnico de valor. Foi ele quem projetou o motor V6 traseiro desta máquina ímpar para equipar carros de Fórmula 2 em 1957. Este motor equipou carros que venceram em Targa Florio em 1961 e 1962. A terceira geração, concebida por Carlo Chiti, permitiu a Ferrari vencer o campeonato mundial de construtores de Fórmula 1 em 1961 com o famoso 156 F1, primeiro Ferrari de motor traseiro — belíssimo por sinal. Na década de 60 também foi usado em duas categorias. O protótipo 206 SP e o Dino 166 P competiram no campeonato mundial de marcas.

A exceção da taxa de compressão que era bem mais alta e da máxima rotação do motor, o restante da parte mecânica era muito semelhante ao modelo 246 GT. Mas pesava apenas 600 quilos e era muito mais rápido.

Estes belos protótipos foram pilotados por Lorenzo Bandini e Nino Vaccarella em 1965 nos 1000 Quilômetros de Nürburgring na Alemanha. Ficou em quarto lugar. 

A fórmula 2 Dino 166 F2 (16 por causa do 1600 e 6 pelos seis cilindros) tinha taxa de compressão de 11:1. Sua potência variava de 210 a 235 cavalos a 10.500 rpm. Tinha duplo comando e três válvulas por cilindro. Era alimentado por injeção Lucas. Seu chassis era semi-monocoque. Seu peso vazio era de 425 quilos. Correu nas temporadas de fórmula 2 em 1968 e 1969. Foi pilotada por grandes nomes como Chris Amon e Jacky Ickx. Amon ganhou o campeonato da Tasmânia.

O piloto italiano Vittorio Brambilla ganhou em Hockenheim e em outras provas. O mesmo motor que equipava o Dino levou o Lancia Stratos a várias vitórias em ralis na Europa.


Homenagens e Filantropia.

Nenhum brasileiro se esquece de nomes como Tamburello, Piratella e Acqua Minerale. Estes nomes fazem parte de uma pista famosa na República de San Marino. O autódromo que fica na cidade de Imola, foi batizado com o nome Autódromo Enzo e Dino Ferrari.

Autódromo Enzo e Dino Ferrari  – Extensão: 4.959 metros de comprimento.

Em Milão, na Itália, fica a sede do Centro Dino Ferrari. Trata-se de um hospital de pesquisas que é especializado em doenças neuro-musculares  e neuro-degenerativas. Nasceu da vontade e foi fundado pelo Comendador em 1984. Faz parte do Departamento de Ciência  de Neurologia da Universidade de Milão. O presidente Honorário hoje é Piero Ferrari. A grandeza deste homem não se media só pelos seus magníficos carros que encantaram e ainda encantam o mundo. Também pela filantropia por uma causa humana. 


Texto, Fotos e montagem Francis Castaings. Demais fotos sem logo Retroauto são das Organizações Peter Auto publicadas neste site e fotos de divulgação

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