Lancia Flaminia: Burguesia Turinense

Lancia Flaminia: Burguesia Turinense

A empresa fundada por Vincenzo Lancia sempre se distinguiu por seus automóveis diferentes, inovadores e pela qualidade de fabricação. Nomes como Lambda, Astura, Augusta e Aprilla sempre são lembrados como referência. O primeiro modelo da empresa foi o Alpha apresentado no Salão de Torino em 1908.

No período da Primeira Guerra Mundial dedicou-se mais a fabricação de caminhões. Logo depois, em 1919 veio o modelo Kappa e em 1922 o revolucionário Lambda (abaixo) .

Em 1931 já havia produzido mais de 13.000 automóveis. E seis anos depois era a vez do revolucionário Aprilia entrar em produção. 

Seus automóveis eram distintos e não eram baratos. Após a Segunda Guerra Mundial os modelos Aprilia (abaixo) e Ardea continuavam em produção.

Em 1950, no Salão de Automóveis de Torino era apresentado o belo Aurelia (abaixo). O objetivo principal deste carro com tendências esportivas era amealhar compradores de Alfa Romeo na Itália.

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Cinco anos depois, novamente no Salão de Torino era apresentado o projeto Florida desenhado por Pininfarina. O belo cupê tinha linhas arrojadas e muito modernas. Destacava-se pela ótima visibilidade e uma discreta agressividade. Um ano depois, baseado neste era apresentado o modelo conceito de quatro portas e sem coluna central. A porta traseira era tipo suicida e por isso o acesso a bordo era muito bom. O espaço interno era amplo e um luxo a altura de ingleses e alemães.

E em 1957 entrava em produção o sedã Flaminia. Como era tradição da empresa, o nome era em homenagem a uma antiga estrada romana. Tratava-se da Via Flaminia, que ligava Roma a Ariminum, cidade hoje chamada de Rimini.

Sua pintura era bicolor sendo que o teto, a coluna C e a tampa do porta-malas eram pretos. No mínimo original. Também originais eram os limpadores de vidros traseiros, inéditos até para um sedã de produção em série. Era um carro grande para os padrões italianos e europeus e acomodava bem cinco passageiros com conforto.

Media 4,85 metros de comprimento, entre-eixos com 2, 87, altura de 1,48 e largura de 1,75. Seu peso era da ordem de 1.480 quilos. Algumas mudanças no carro de série se tornaram obrigatórias devido a custos de produção. A carroceria em aço estampado estava apoiada num chassi tubular, também em aço, soldado a carroceria. Havia neste a coluna central e as portas tinham abertura convencional. Estava mais comportado, mas mantinha a elegância.

A grade dianteira era retangular com frisos finos verticais e horizontais. No centro o escudo da marca fazia a identificação. Sobre o capô havia uma discreta entrada de ar. Os faróis principais assim como os direcionais eram circulares. Os pára-choques com protetores eram cromados. Seu motor, derivado do Aurelia era dianteiro com seis cilindros em V a 60º em posição longitudinal. Tinha ótima reputação de solidez e desempenho.

O bloco, o cabeçote e os pistões eram em liga leve. Era arrefecido a água. Sua cilindrada era de 2.458 cm³ e alimentado por um carburador Solex em posição invertida. Gerava a potência de 102 cavalos a 4.600 rpm. O torque máximo era de 19,5 m.kgf a 4.600 rpm.

Sua tração era traseira e caixa de marchas tinha quatro velocidades sendo que e alavanca era na coluna do volante. O sedã atingia a velocidade máxima de 160 km/h adequado, portanto ao gabarito do carro.

A suspensão dianteira era independente com trapézios, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Atrás tinhas barra estabilizadora, seguia o sistema De Dion com amortecedores hidráulicos e molas semi-elípticas. Os freios eram a disco nas quatro rodas, da marca Dunlop e tinham duplo circuito. Estava calçado em pneus 175 x 400.

O painel era refinado e muito bem acabado. Seu desenho era simples e acomodava dois mostradores circulares, conta-giros e velocímetro respectivamente e dentro destes estavam termômetro de água, carga da bateria e nível do tanque de gasolina. Os bancos dianteiros tinham assento inteiriço e os encostos separados e reclináveis.

Em 1958 entravam em cena três cupês derivados do Flaminia.

E todos os três com estilos diferentes e muito bonitos. Eram o cupê Pininfarina oriundo do Projeto Florida de linhas mais clássicas baseadas no sedã.

O cupê Touring, da empresa homônima tinha uma leve esportividade e geraria também um belíssimo conversível. E por último o agressivo Zagato com linhas muito esportivas. A carroceria deste era toda construída em alumínio.

O cupê Touring tinha quatro faróis circulares dianteiros e grade retangular. Tinha três volumes distintos, boa visibilidade, acabamento impecável e muito charme. O Zagato respirava esportividade. Suas linhas eram bem curvas e o capô tinha uma leve inclinação.

Nos três o cambio de quatro marchas era no assoalho. Para o Touring e o Zagato apenas dois passageiros eram transportados. O motor era o mesmo para o trio. Tinha a potência elevada para 131 cavalos a 5.600 rpm. O torque permanecia quase idêntico ao sedã, mas por diferenças aerodinâmicas e de peso a velocidade final variava. O “Coach” de Pininfarina chegava aos 170 km/h. Um pouco mais veloz, o Touring Grã Turismo chegava aos 180 km/h. E o Zagato levava a melhor nas auto-estradas cravando 190 km/h. 

Em 1960 a Touring apresentava seu conversível que, como opção, podia receber uma capota em fibra de vidro.

Uma versão interessante foi feita especialmente para receber a Rainha Elizabeth II em 1960. Encomendada pelo governo, foi construída em apenas seis meses.

Tratava-se de um conversível quatro portas com uma distancia entre-eixos maior. Media 3,35 metros! Seu nome de batismo era 335, mas ficou conhecida como Presidenziale ou Quirinale sendo que este era o nome do Palácio residência do Presidente Gronchi. Era extremamente luxuosa recebendo inclusive couro Connolly em seus bancos.  

Em 1962 o Touring GT e o Sport Zagato (primeira foto) ganhavam três carburadores Webber 40 gerando a potência de 140 cavalos a 5.600 rpm. O torque subia para 20,7 m.kgf a 3.000 rpm. Nas laterais havia a inscrição 3C para intimidar.

Mas também havia uma preparação SuperSport para o Zagato deixando mais apimentado ainda. Recebia três carburadores de corpo duplo e a potência chegava aos 160 cavalos a 6.000 rpm. A bomba de gasolina elétrica opcional também demandava gasolina de 98 octanas devido à taxa de compressão de 9.5: 1. Sua velocidade final era de 210 km/h. Neste ano também a Touring apresentava o GTL 2+2 com teto mais alto. Um pouco mais comprido media 4,50 metros de comprimento e pesava 1.350 quilos.   

Em 1964 todos os motores passavam a ter 2.775 cm³. O sedã e o Pininfarina ganhavam um carburador de corpo duplo, porém não havia notáveis diferenças de performance. O SuperSport da Zagato recebia nova carroceria desenhada pelo famoso Ercole Spada. Estava mais agressivo com suas linhas muito curvas e faróis em forma de gota. 

Foram construídos 12.431 exemplares do Flaminia. Foram cerca de 4.000 sedãs, 5.200 Pininfarina, 1.600 GT Touring, 300 GTL, 800 conversíveis, 398 Sport e apenas 150 SuperSport. 

Personalidades como Brigitte Bardot e Marcello Mastroianni, possuíram o Flaminia e posaram junto com ele. Também a belíssima italiana Sofia Loren e a veterana Audrey Hepburn. Constam ainda na lista o grande escritor americano Ernest Hemingway.

Um acidente fatal com um Flaminia Touring, no bairro Bois de Boulogne em Paris, tirou a vida do Príncipe Aly Khan, um amante de automóveis rápidos e sofisticados. Este nobre paquistanês foi casado com a não menos famosa Rita Rayworth. 


Texto, fotos e Montagem Francis Castaings.                                                                              

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