Os Minis da Gurgel: BR-800, Supermini e Motomachine
O Gurgel BR-800 foi o primeiro urbano 100 % nacional, o primeiro mini carro da empresa movido a gasolina. Foi lançado em 1988. Primeiramente foi vendido a acionistas da empresa. Ia se chamar Cena, “Carro Econômico Nacional”, mas por motivos óbvios, foram impedidos. Em 1988 haviam 8.000 novos acionistas.
Era o carro mais barato do país. Era bem pequeno e por isso, aparência frágil. O governo criou um incentivo fiscal: o IPI era mais baixo (5% contra os 25% ou mais para os outros carros) para o carrinho popular. Mas, em 1990, o incentivo ao carro popular se estendeu a todos os carros com motores de até 1 litro (1.000 cm³ de cilindrada). A Fiat lançou seu Uno Mille, que custava praticamente o mesmo que um Gurgel, e foi seguida pelas outras montadoras.
Os novos concorrentes do BR-800 tinham melhor desempenho, acabamento e mais espaço. Neste momento a vida do pequeno Gurgel ficou difícil. Em janeiro de 1991 deixou de ser fabricado. Para enfrentar a competição, a Gurgel lançou o Supermini, em 1992.
Seu motor, único no mundo, tinha dois cilindros opostos de quatro tempos, 792 centímetros cúbicos e arrefecido a água. Foi fundido em liga de alumínio/silício. A potência era de 33 cavalos a 5000 rotações por minuto. Foi batizado como Enertron e projetado pela própria empresa. A ignição era controlada por um microprocessador (garantido durante cinco anos) que eliminava o distribuidor e os platinados. Outra patente da Gurgel. Sua velocidade máxima estava por volta dos 110 Km/h e 30 segundos para chegar aos 100 km/h.
O cambio tinha quatro marchas. As relações eram longas e a velocidade final demorava a chegar. Podia transportar quatro passageiros com relativo conforto e 200 quilos de carga. Pesava 645 quilos.
Tinha duas portas e os vidros desta eram corrediços. Para guardar objetos no pequeno porta-malas, bastava abrir o vidro traseiro basculante que servia de porta. Este acesso não era dos mais cômodos. Foi lançado em 1988 e foi produzido até 1991. Uma forma de compra reservada era a aquisição de ações da empresa em que se iniciou em 1988. Foram vendidas 10.000 lotes de ações.
Neste ano a empresa já não ia tão bem. Começava a ir atrás de empréstimos altíssimos para tocar novos investimentos para novos projetos.
O Supermini veio em 1992, depois do BR-800, e era uma evolução deste. Tinha um estilo muito próprio e moderno. Media 3,19 metros de comprimento sendo o menor carro fabricado aqui. Tinha largura de 1,5 metros, altura de 1,46 e entre-eixos de 2,0 metros. Era oferecido sempre em duas cores.
Estacionar era com ele mesmo devido a pequena distancia entre-eixos e uma direção leve e precisa. Tinha faróis quadrados, grade na mesma cor do carro, duas portas, dois volumes e boa área envidraçada. Era melhor, com linhas mais equilibradas e de estilo bem mais bonito que seu antecessor. A carroceria era em plástico FRP e tinha garantia de 100.000 quilômetros. Tinha alta resistência a impactos e como tradição da fábrica, estava livre da corrosão.
Estava sobre um chassi de aço muito bem projetado e seguro que tinha um baixo coeficiente de torção. Seu painel e interior eram muito bons. No painel, ao centro, velocímetro graduado a 140/h. A esquerda deste marcador do tanque de gasolina (40 litros) e luzes espia. Havia ainda conta-giros graduado a 6.000 rpm e relógio de horas. Abaixo um toca-fitas de boa qualidade.
Os para-choques dianteiro e traseiro, assim como a lateral inferior eram na cor prata. A maior parte dos modelos que saíram da fábrica eram na cor prata, amarela, branca, azul escuro metálica e vinho. Usava o mesmo motor bicilíndrico, só que um pouco mais potente. Havia quatro cavalos a mais graças ao cabeçote redesenhado e as válvulas de admissão aumentadas. Todo o conjunto motriz tinha garantia de fábrica de 30.000 quilômetros. Mas conta-se, que na sala do grande engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, na fábrica, em Rio Claro, São Paulo, havia uma curiosidade no meio dos troféus e diplomas na parede. Uma uma multa por excesso de velocidade! A notificação, virou orgulho para João Augusto e foi graças ao pé pesado de um funcionário ao volante de um BR-800, que foi registrado por uma radar a 126 km/h! O piloto de testes não foi repreendido! Foi aplaudido! A suspensão dianteira era independente com molas helicoidais e amortecedores telescópicos e a traseira tinha eixo rígido., molas semi-elípticas e amortecedores telescópicos. Sua direção era leve e tinha rodas em aço estampado nas 4,5 x 13 e pneus 145 R13 S. Adequados ao carro.
Os vidros dos passageiros da frente não eram mais corrediços e nem tinham quebra-ventos e agora tinha uma verdadeira tampa de porta-malas. Antes se abria o vidro traseiro para entrar a carga. Os fiéis compradores aplaudiram esta evolução. Os bancos traseiros eram bipartidos o que possibilitava o aumento de carga no porta-malas.
O consumo, apesar do peso e da potência, não era extraordinário. Fazia 14 km/l na cidade. A uma velocidade constante na estrada, a 80 km/h podia fazer até 19 km/l em quarta marcha. Como destaques tinha suspensão pendular. A dianteira era batizada de Spring-shock e a traseira de Leaf-coil ambas marcas registradas da Gurgel. A versão SL trazia como equipamentos de série conta-giros, antena de teto, faróis com lâmpadas halógenas, rádio toca-fitas, etc. Até junho de 1992 1.500 unidades já tinham sido vendidas do Supermini. Houve a intenção de um modelo “Cross” muito interessante com quebra-matos, bagageiro no teto, suspensão elevada e estepe preso na porta traseira. A versão SLX chegou aos planos e o maior diferencial era o vidro traseiro maior e a capota de lona. Ainda um pequeno bagageiro após a capota de lona e rodas de liga. Era interessante.
Em 1992 constava do catálogo da empresa o Supermini e a Motomachine. O motomachine era um veículo bastante interessante. Como o próprio nome diz, era uma motocicleta sobre quatro rodas. Todo em tubos, parecia um carrinho de ficção científica. Acomodava dois passageiros. Usava o mesmo motor do Supermini e outras peças como frente e para-lamas. De uso bem restrito, urbano. Feito para a curtição. Poucas unidades circulam e são dignos de apreciação e curiosidade. Quem tem, não vende. O próximo projeto, batizado de Delta, teria chassi de alumínio, motor desenvolvido pela Lotus inglesa e carroceria moldada na fábrica de carrocerias Karmann. Seria fabricado em Fortaleza, no estado nordestino do Ceará, mas não chegou as ruas.
Texto, Fotos e montagem Francis Castaings. Demais fotos de divulgação
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