Rolls-Royce Silver Cloud – Nuvem de Prata sobre rodas
No começo da década de 50, a mais famosa fábrica de automóveis britânica e conhecida em todos os continentes, a Rolls-Royce Ltd. , tinha uma linha de carros antiquada e pouco atraente apesar do charme, elegância, sofisticação e confiabilidade.
Nesta época, a empresa situada em Crewe, a 300 quilômetros de Londres, capital da Inglaterra, produzia o modelo Silver Dawn (madrugada de prata) e o Silver Wraith (espectro de prata). Nestes anos, seus fundadores, Frederic Henry Royce e Sir Charles Stuart Rolls já tinham falecido e por isso não tiveram a felicidade de ver a continuidade de sua obra.
Em 1955 era lançado um novo modelo nobre da casa de Crewe. Tratava-se do Silver Cloud I ou Nuvem de Prata. Era mais um autêntico Rolls e foi desenhado por J. P. Blatchley. Pomposo, bonito, imponente, mas com estilo muito tradicional e no princípio, não emocionou muito o público. Tinha as mesmas linhas que seu futuro irmão, o Bentley S type. Esta empresa de destaque,foi absorvida pela Rolls em 1931.
Com três volumes, quatro portas, pesava 2.108 quilos e media 5,34 metros. Suas linhas eram curvas e bem dimensionadas sendo que, visto de lado, sua traseira era bem mais baixa que a frente tendência já abandonada no final da década de 40. Esta carroceria era fabricada pela empresa Mulliner, parceira tradicional da Rolls-Royce. E ficava mais bela ainda quando era pintada, em várias camadas, em dois tons, sendo que, o superior, estava acima da linha das janelas laterais. Não pegava os pára-lamas, só capô, capota e contornos do porta-malas. Os retrovisores para o mercado inglês ficavam no meio dos pára-lamas dianteiros e para os externos, em posição normal. Seu chassi tinha vigas de aço com um “X” central reforçando.
A imponente e sofisticada grade do radiador, com a escultura Spirit of Ecstasy – ”Espírito de Êxtase”, fundida em legitima prata, no topo, era ladeada por faróis redondos sendo que havia dois auxiliares menores abaixo. Este tradicional mascote era preso por fios de aço para intimidar os amigos do alheio.
Debaixo do capô, que mantinha a dupla abertura, tinha um motor seis cilindros em linha, com 4887 cm³ sendo que o bloco e carter eram em ferro fundido e o cabeçote em alumínio. Como é tradição da fábrica a potência anunciada era sempre “suficiente”. As válvulas de admissão eram no cabeçote e as de escapamento no coletor. Sua alimentação era feita por dois carburadores da marca SU. A taxa de compressão era de 6:1. A caixa automática de quatro velocidades era fabricada sob licença da General Motors americana. Não tinha opção de caixa de marchas mecânica. Sua tração era traseira.
Por dentro era muito requintado. Acomodava com muito conforto cinco passageiros. Na época dizia-se que era o primeiro Rolls que poderia ser dirigido pelo seu dono. Estava mais para um “Saloon” do que para uma limusine.
O painel de madeira nobre tinha instrumentação completa. A chave de ignição ficava no meio. O que sempre destoava era o volante de três raios e desenho muito antiquando. O revestimento dos bancos, que mais pareciam poltronas, como sempre, era em couro Conolly e o acabamento como era tradição, impecável. Atrás dos dianteiros tinham pequenas “mesas” em nogueira.
O porta-malas era amplo, abrigava o pneu estepe, a bateria e um refinado estojo de ferramentas. Que nunca eram usadas, pois um RR é perfeito e não estraga!
Sua suspensão dianteira era independente com molas helicoidais e a traseira tinha feixe de molas. Trazia um conforto excelente. As rodas de aço tinham belas calotas. Seus pneus eram na medida 820 x 15.
No mesmo ano era lançado um conversível de quatro portas muito bonito, produzido por outra parceira, a Park Ward, e em 1957, uma limusine com chassi alongado em 10 centímetros. Este “Cabriolet” é o que tem a cotação mais alta entre os Cloud atualmente.
Em 1959 era lançado o Silver Cloud II. As alterações de estilo foram mínimas mas a estreia de um novo motor, muito mais moderno, foi festejada.
O primeiro V8 produzido pela empresa, a 90º, era todo em alumínio, tinha 6.230 cm³ com cinco mancais e sua potência, apesar de não declarada, era estimada em 200 cavalos a 4.500 rpm. As válvulas eram no cabeçote e o comando lateral. Sua taxa de compressão era de 9:1 e tinha duas bombas elétricas de gasolina. Sua velocidade final era de 185 km/h e fazia de 0 a 100 km/h em 11,5 segundos. Agora sim tinha uma potência respeitável. Seus freios eram hidráulicos a tambor com servo-freio.
Em 1962 um conversível também se destacava, só que era um cupê muito elegante e atraente apesar das linhas parecerem arcaicas perto de outros “sem capota” americanos, ou Mercedes alemães.
Um clássico com linhas muito arredondadas e pesadas. Juntando todos os modelos, foram produzidos 2.717 Cloud II.
Em 1963 era lançado o Cloud III. Além do capô do motor ter uma ligeira inclinação para baixo e os para-lamas uma pouco mais altos, trazia novo grupo ótico para atender as leis americanas, pois a exportação deste era muito importante. Tratava-se de faróis duplos circulares e vários tradicionalistas torceram o nariz por causa da novidade. Os faróis auxiliares ficavam apoiados nos para-choques e as luzes de seta foram para a ponta dos para-lamas. Opcionalmente podia vir com um teto solar que lhe caía muito bem.
Um cupê, que tinha carroceria conversível, que nada lembrava do Cloud II, era simplesmente lindo. Longe de ser um esportivo, mas por onde desfilava, chamava muito a atenção pela elegância. Este “Saloon Coupé” e era encarroçado pela famosa empresa James Young.
Os Rolls-Royce sempre foram associados a reis, rainhas, e nobres.
Mas a linhagem dos Cloud também atraíram outras classes sociais menos abastadas mas desejosas de status.
Dois mil exemplares foram fabricados da série III e saiu do catálogo da fábrica em 1966 deixando a nobreza para o novo Silver Shadow muito mais moderno. Foi um marco na história da Rolls por ter sido o primeiro da linhagem a ser tracionado por um oito cilindros em “V”.
Texto, fotos e montagem Francis Castaings.
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