Bill/William L. Mitchell.Um pai de vários filhos famosos

Bill/William L. Mitchell.Um pai de vários filhos famosos

Vários homens se tornaram muito famosos pelo conjunto de suas obras ou por uma só. Seja um livro, um filme, uma música, um avião ou automóvel não existe uma só pessoa envolvida na totalidade da concepção. Podemos dizer que Alec Issigonis foi o pai do Mini inglês, mas existia uma equipe competente por trás. O mesmo pode ser dito dos carros esportes do Comendador Enzo Ferrari, do inglês Walter Owen Bentley ou do brasileiro João Augusto do Amaral Gurgel.

Nos Estados Unidos um dos homens mais importantes do designer automobilístico foi William L. Mitchell, mais conhecido como Bill nascido em 1912 na cidade de Cleveland no estado de Ohio. Já pequeno mudou-se com a família para o estado da Pensilvânia para a cidade de Greenville onde seu pai montou uma revendedora Buick.

Em 1927 mudou-se para Nova York para trabalhar como desenhista na Agência Barron Collier Advertising que fazia parte de um grande grupo que reunia bancos, hotéis e até linhas de ônibus. Devido ao talento foi recomendado e fez as escolas de Carnegie Institute of Technology em Pittsburgh em 1930 e quando retornou para Nova York fez a Art Students League terminando este curso em 1931. Um amigo do patrão Barron Gift Collier fez com que Mitchell entrasse em contato com Harley Earl que era chefe do departamento de estilo da General Motors e se tornaria vice-presidente da mesma entre 1937 a 1959.

A bela carreira de Mitchell iniciava no grupo GM em 1935 quando se juntou aos melhores da equipe de Harley Earl e em 1937 se tornava chefe do estúdio da Cadillac e da La Salle. Era muito jovem e já tinha muitas responsabilidades. Abaixo o Cadillac cupê V16 1939.Cilindrada de 7.023 cm³, potência de 165 cavalos para chegar à 160 km/h.

Sua primeira criação foi o Cadillac Sisty Special. Tratava-se de um Cadillac de quatro portas menor não menos luxuosos, mas mais acessível. Suas linhas arredondadas nos para-lamas, capôs e grade muita cromada, também apelidada de máscara de esgrimista, influenciaria muitos carros da década de 40. O carro com motor com oito cilindros em “V” e 130 cavalos foi um sucesso e até 1941 foram produzidas cerca de 18.000 unidades do modelo.

Neste ano também Bill Mitchell deixava a empresa para se alistar na marinha americana. Os EUA não estavam ainda em guerra, mas se preparavam.

Após o conflito foi convidado por Harley Earl para retornara a GM a fim de produzirem novos projetos. Bill teria um cargo melhor, uma grande equipe e muito mais competências. E apesar de gostos diferentes e afinidades eram amigos. O fim da Guerra soprava bons e novos ventos para todos e para a indústria de automóveis, principalmente nos Estados Unidos, a linha de montagem estava em ritmo acelerado. Nas ruas e avenidas das metrópoles americanas era notável o número de veículos crescendo.

O ano de 1949 marcava o início de um extravagante, mas bem sucedido artifício da General Motors. Era o Motorama que misturava show de dança e música e carros fora do comum. Eram modelos conceito que em alguns casos chegavam a bizarrice. A década de 50 e 60 seria de vital importância e muita criatividade para a indústria de automóveis americanos, mas também para o legado deixado por Mitchell.

Um conceito interessante foi o XP-20, um Oldsmobile F-88 de 1954 que foi idealizado por Harley Earl, Bill Mitchell, Ken Pickering e pelo engenheiro belga de origem russa Zora Arkus-Duntov. E a semelhança com o modelo de série Oldsmobile 98 1953

Que também foi um dos idealizadores dos primeiros Corvettes.

Este interessante cupê foi um exercício de homens de talento que faria muito sucesso na história dos carros americanos. Este time de ouro não acharia equivalência tão cedo.

Em 1956 o público conhecia o modelo SR-2 sigla que podia ser Sebring Racer ou Sports Racing. O piloto Jerry Earl, filho de Harley Earl queria competir num Ferrari 250 MM nas provas americanas. O pai logo conclamou seus desenhistas e Bill Mitchell para fazer um Corvette mais adequado e feroz para as pistas.

A primeira versão chegava a lembrar o carro de rua com um para-brisas mínimo e pequenos rabos-de-peixe na traseira. Já a versão de 1957 tinha um capô mais longo e trazia um grande “leme” após o posto do piloto que servia como estabilizador e era inspirado no Jaguar D-Type. Além de bonito o carro fez sucesso nas pistas.

Em 1959 era a vez o XP 500 também baseado no Corvette e teve a supervisão Mitchell. Era um carro conceito que usava vários componentes de série. A frente muito agressiva mostrava quatro faróis circulares e grade oblonga avançada. O habitáculo para duas pessoas era totalmente transparente. Em todo o carro era usado muito alumínio, plástico e aço e iria servir de inspiração para os projetos futuros da empresa. Não era um simples exercício. E deu origem ao Chevrolet Corvette geração 2 ou C2

Com inspiração nos projetos anteriores a década de 60 seria muito marcante. Nascia um dos mais importantes feitos do já então chefe do departamento de estilo da empresa de Detroit. Era o Mako Shark com linhas inspiradas em um tubarão. A inspiração veio quando pescava nas águas do arquipélago das Bahamas. A parte superior do capô e a grade eram quase idênticas à cabeça e a mandíbula do cordato. Suas guelras estavam representadas no esportivo por três entradas de ar verticais com pequena inclinação e realçavam os quatro canos de descarga cromados laterais. As linhas traseiras também tinham influência deste temido animal. Seu teto, que poderia ser retirado, era transparente. Debaixo do capô estava um poderoso V8 com compressor que atingia 450 cavalos. Tornou-se o carro de uso pessoal de Mitchell e a pintura tinha dois tons em azul e cinza

Ainda em 1962 nascia o Chevrolet Corvair Monza GT e SS. Os primeiros testes foram em Elkhart Lake e Watkins Glen locais sagrados de corridas de várias categorias importantes. Ambos tinham motor central posicionado à frente do eixo traseiro e o desenho da carroceria abusava da aerodinâmica. No SS a carroceria era spider e no GT porta, teto e pára-brisa eram uma única peça e abriam-se para frente. Seguindo a mesma idéia a tampa do capô fazia conjunto com os pára-lamas. O GT tinha distância entre-eixos de 233 centímetros e o SS 223. Ambos contavam com o motor de seis cilindros opostos de série com 102 cavalos.

Em 1963 entrava em produção uma das obras primas da grande carreira de Bill Mitchell. Era o Buick Riviera um cupê esportivo de alto luxo, boa performance para que os americanos esquecerem os importunos esportivos europeus. Com linhas limpas e muito bonitas agradou muito o público norte americano e foi elogiado também pelos estilistas do outro lado do Atlântico. Este belo automóvel foi produzido em Flint no estado de Michigan entre 1963 e 1965. Um modelo exclusivo foi feito para o criador. O teto era mais baixo, tinha rodas raiadas de cubo rápido e motor V8 de 7 litros e 340 cavalos. Um dos mais belos carros produzidos na América dos anos 60.

Em 1965 outra surpresa para o mundo do automóvel. Era apresentado o Mako Shark II que também era chamado de Manta Ray que seria a base do Chevrolet Corvette fabricado entre 1968 e 1982. Impressionava pelas suas linhas agressivas e como o anterior era apresentado nas cores azul e cinza.

O projeto XP-830 apresentava frente muito longa, traseira curta, apenas dois lugares e um potente motor V8 de 427 polegadas cúbicas. O grande designer fazia questão de acompanhar todo o processo de fabricação, pré-série e testes. Desde os primeiros moldes e maquetes até o produto final.

Contribuições importantes produzidas sob a batuta de Mitchell ainda na década de 60 foram o belo cupê Oldsmobile Toronado, acima, na segunda versão e o Cadillac Eldorado de 1967, abaixo.

Outro carro chave de extrema importância na história do grupo GM foi o Chevrolet Camaro sendo que Bill Mitchell participou das duas primeiras gerações e solidificou o belo cupê compacto que fazia concorrência principal ao Ford Mustang.

Lançado em 1967 o Camaro seguia a tendência de formas do Buick Riviera cujo perfil lembrava a garrafa de uma coca-cola. Também do grupo General Motors, a Pontiac lançou o belo Firebird aproveitando a plataforma do Camaro.

Na década de 70 outro Buick Riviera fazia muito sucesso e causava impacto. Lançado em 1971este tinha inspirações no Corvette Sting-Ray de 1963 devido ao formato do vidro traseiro.

Bem grande com 5,52 metros e de estilo próprio, denominado Silver Arrow, ou flecha de prata, esta versão foi produzida até o final de 1973. Também teve uma versão personalizada para seu criador com três pequenos faróis retangulares, grade cromada menor que a de série e belas rodas raiadas de cubo rápido.

Outro modelo de muito sucesso foi o Cadillac Seville lançado em 1975. Compacto e discreto ia à contramão das linhas que Mitchell já apresentava ao seu público fiel sempre na expectativa de desenhos de impacto.

Contra os costumes das grandes empresas de automóveis americanas, General Motors, Chrysler, Ford e American Motors, Bill Mitchell se dava bem com seus designers concorrentes como Dike Teague da AMC e Gene Bordinat da Ford. Contrariando a muitos, Bill era amigo destes e se frequentavam.

Em 1977 aos 65 anos William L. Mitchell, um homem apaixonado por carros e pela sua profissão, muito educado e cortês, dotado de muito senso de humor, aposentou-se após quase quarenta anos numa das maiores empresas de automóveis da América. Sempre se deu muito bem com a imprensa e fazia questão de se apresentar e a divulgar seus carros quando do lançamento. Comparecia a eventos para divulgação nos Estados Unidos e na Europa.

Onze anos depois, em 1988, um dos maiores designers americanos morria deixando um legado inegável para toda a indústria automobilística mundial.



Texto, fotos e montagem Francis Castaings. Fotos de divulgação e publicadas no site

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