IKA-Torino: A Máquina dos Pampas

IKA-Torino: A Máquina dos Pampas

A Argentina é conhecida mundialmente pelo tango, pela saborosa carne e pela bonita capital Buenos Aires. Nos anos 50 tornou-se ainda mais famosa pelo fantástico pentacampeão mundial de Fórmula 1, Juan Manuel Fangio. Tanto lá quanto no Brasil, os automóveis eram feitos sob licença das fábrica matrizes, que tinham suas origens na Europa ou nos Estados Unidos.

Fabricando o modelo Rambler da American Motors Corporation desde 1961, a IKA (Industrias Kaiser Argentina), que pertencia à Renault francesa, tinha como presidente James McCloud, que desejava fabricar um carro de porte médio. Assim, baseado no Rambler American Rogue, era lançado no final de 1966 o Renault Torino, em versões de quatro e duas portas. O projeto recebera cuidados estilísticos nos estúdios da Pininfarina, na cidade italiana de Turim, daí o motivo do nome.

O estilo original americano havia sido retocado pela italiana Pininfarina, de Turim, origem do nome deste Renault. Além da elegância, as versões cupê esbanjavam desempenho com o motor de 3,8 litros

A recepção ao novo automóvel argentino foi muito boa. Tratava-se de um três-volumes de linhas retas, boa área envidraçada, com 4,74 metros de comprimento e peso de 1.365 quilos. Um carro moderno na época. O modelo de duas portas, sem coluna central, tinha apelo mais esportivo. Na frente tinha quatro faróis redondos, sendo dois menores e encravados na grade cromada. Esta no centro recebia um emblema homenageando a cidade italiana. Os para-choques, também cromados com protetores, eram envolventes.

Apesar do “traço” italiano, não escondia a influência americana nas linhas da carroceria. Havia um sedã de quatro portas e dois cupês. O motor do primeiro tinha 2.960 cm³, seis cilindros em linha e caixa manual de três marchas com alavanca na coluna. Um carro familiar e bem comportado. O cupê básico tinha 3.769 cm3, comando de válvulas nos cabeçotes, câmaras de combustão hemisféricas, carburador Holley, 170 cavalos de potência e câmbio ZF de quatro marchas com alavanca no assoalho.

O topo de linha era o cupê 380W. Com a mesma cilindrada do básico, recebia três carburadores de corpo duplo Weber, taxa de compressão de 8,1:1 e atingia a potência de 215 cavalos a 4.700 rpm. Na época era o carro sul-americano mais rápido produzido em série, com velocidade final de 205 km/h. Podia encarar muitos europeus e americanos. O motor tinha a denominação Tornado e servia também aos jipes argentinos, mas nos Torinos recebiam outro “tratamento”. Obs.: A versão W, foram fabricados menos de 1200 carros e atualmente não restam 20 no mundo!

O carro contava com freios a disco na dianteira e a tambor na traseira. O modelo mais bravo tinha rodas esportivas e pneus 7,55 x 15. A suspensão dianteira era independente com molas helicoidais, a traseira tinha eixo rígido. Seu comportamento era típico americano, com saída de traseira em curvas. Seus concorrentes no país eram o Chevrolet Nova, o Ford Falcon Futura e o Chrysler Valiant GT.

Nos primeiros três anos vendeu só 15.000 unidades, mas devido ao sucesso na 84 Horas de Nürburgring, no lendário autódromo alemão, conhecido como “Inferno Verde”, as vendas passaram a crescer. Isto se deu numa famosa prova de resistência, em 1969, onde três Torinos formaram a “Missão Argentina” no difícil traçado de 13 quilômetros de extensão.

Foram preparados pelo competente Orestes Berta, que em 1975 faria um belo trabalho no Ford Maverick da equipe Hollywood brasileira. Concorrendo com o carro latino estavam nomes de importância na época, como Porsche 911, BMW 2002, Triumph TR5, Volvo 142 S, Lancia Fulvia e Mercedes-Benz 220. A preparação dava ao motor de 4,0 litros a potência de 300 cv a 5.600 rpm. Com carroceria de plástico reforçado com fibra-de-vidro, pesava apenas 950 quilos e sua velocidade final estava por volta dos 235 km/h.

Entre os pilotos de renome estavam Juan Manuel Fangio, fazendo dupla com Luis Di Palma, no carro número 1. Carmelo Galbato, Gastón Perkins e Jorge Cupeiro corriam no carro 2. No 3 pilotavam Eduardo Rodríguez, Eduardo Copello e Oscar Franco, o Larry. Os dois primeiros carros tiveram problemas e não completaram a prova. Dos três Torinos que participaram da prova alemã, apenas um chegou, mas foi o primeiro em sua categoria e o quinto na geral, mesmo competindo com Porsches, BMWs e Lancias. Mas, ao final de 9.119 quilômetros e 322 voltas no circuito, Franco classificou-se em quinto lugar, dando muito orgulho a todos. Seu carro não tinha mais cano de escapamento, devido ao desgaste, e foi o que deu o maior número de voltas — foi penalizado em cinco segundos por causa do escapamento que teve que ser reparado nos boxes. Até hoje isto está engasgado nos argentinos… Mas chegou em primeiro na categoria. Ficava comprovada a robustez, confiabilidade mecânica e o desempenho do Renault Torino. A partir deste evento os argentinos passaram a chamar-lhe carinhosamente de “El Toro”.

Em 1973 recebia uma maquiagem na carroceria. As linhas estavam mais arredondadas e a alteração mais notável eram os faróis menores, com formato retangular sobre a grade preto-fosco. Também contava com novas rodas de alumínio e menos cromados na carroceria. Por dentro, no caso dos modelos esportivos, tinha um bonito volante de três raios, que junto com o completo painel e console recebia acabamento em madeira.

Pequenas alterações de estilo vinham em 1973, mas até o encerramento da produção, em 1982, o desenho original foi mantido. Em toda sua existência, e até muito depois, participou de várias provas nacionais, sempre se destacando entre os primeiros. O modelo que correu em Nürburgring foi homenageado, em 1972, com uma participação na revista em quadrinhos francesa do herói Michel Vaillant, escrita por Jean Graton. No exemplar Rush há uma corrida entre as três Américas envolvendo 120 concorrentes do mundo inteiro.

Em 1982, após quase 100.000 unidades vendidas, tinha encerrada sua produção. O projeto de um novo Torino naufragou após a morte de um presidente entusiasta do grupo Renault. Este protótipo do que poderia ter sido seu sucessor se encontra hoje no Museu do Automóvel na cidade de Córdoba. É cultuado na Argentina até hoje.


Modelo Especial

Esta carroceria foi modificada pela empresa de Elvio Winograd e se chamava Ciervo. Bom gosto e discreto. Além da frente, faróis e protetores de para-choque cromado, era dotado de rodas de liga leve mais refinadas.


O modelo americano em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil


E constou nas páginas em quadrinhos das ótimas histórias de corridas de carro de Michel Vaillant.


O Torino del Rio de Janeiro

Este carro pertence à um colecionador do Rio de Janeiro, foi restaurado conforme manuais de época e hoje participa de corridas de Veículos Históricos de Competição. Fotos cedidas gentilmente pelo proprietário.


Mil Milhas Argentinas

1000 Milhas Sport 2014 Patagônia Argentina

Aconteceu entre os dias 19 e 23 de novembro de 2014, a vigésima sexta edição  das Mil Milhas Argentinas.  Vários carros interessantes de diversas nacionalidades e proprietários de vários países latino-americanos, inclusive do Brasil, participaram desta edição em homenagem à “La Misión Argentina” em que os Ika-Torino tiveram presença fundamental. A prova foi realizada na região da Patagônia e terminou na bela cidade de San Carlos de Bariloche.

A temperatura nesta varia entre – 10° C no inverno à 20° C no verão.  Carros das décadas de 20, 30,40,50,60 e 70 tais como Austin-Healey, MG TD e B, Porsche 356 e 911, Ford Mustang, Jaguar XK e E-Type, MG B, Fiat Dino, Alfa Giulietta Sprint cupê e até um Facel Vega disputaram o belo rali. Também participaram e foram homenageados os IKA-Torino que marcaram a história do automóvel na Argentina. 

Os três carros que disputaram a grande prova alemã estavam lá sendo homenageados na “Cena de Lunes”, Jantar ao luar, sendo que um deles, uma réplica recém construída foi preparado por Oreste Berta, famoso também por ter desenvolvido vários carros de competição do Brasil, especialmente um Maverick muito especial e um Opala de Minas Gerais muito famosos. O trabalho no Ika Torino foi feito junto com Humberto Pagani, um ítalo-argentino da fábrica de acessórios automobilísticos esportivos Zonta. Dividiram o volante neste evento da Patagônia. Os outros dois são os autênticos carros do desafio alemão.  Fotos cedidas gentilmente por Ignácio Loyola. Muito Obrigado. O cartaz tal qual a reportagem do jornal na época.

A armada Argentina. Reencontro após 45 anos em 2014. Bela cena noturna.

Apreciem as fotos. O “Toro” de Franco , Copello e Larry, o número 3 num outro ângulo. Pertence ao Museu Fangio em Balcarce, O carro de Carmelo Galbato, Gastón Perkins e Jorge Cupeiro. Foi achado e recuperado na província de Chaco. A identificação do carro de Pagani e Berta. Detalhe da frente do 380 W.Belas rodas com pneus adequados e identificação Berta.

O número 3 foi restaurado. Esta é a réplica do carro de Ricardo Zeziola, Hugo Narváez e Oreste Berta que foi restaurado e fabricado a pedido de Horacio Pagani.


Um belo modelo original.

Um filme de curta metragem será recontada a epopeia no inferno verde de Nürburgring, circuito famoso na Alemanha. Foi exibido no Festival de Mar del Plata nos dia 23 e 24 de novembro. Este documentário chama-se “La Misión Argentina” cujo diretor é Adrián Jaime. Conta com o apoio importante de Oreste Berta, da empresa Pagani Automobili e é patrocinado pela YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales, empresa estatal argentina dedicada à exploração, refino e venda do petróleo e seus produtos derivados). Será também apresentado o filme original sobre As 84 Horas de Nürburgring de 1969, que completou 45 anos em 2014. Clique no cartaz abaixo para ver um pouco do filme.


Texto, fotos e montagem Francis Castaings. Fotos dos carros de corrida cedidas gentilmente por Ignácio Loyola. Muito Obrigado                      

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