Rolls-Royce Silver Shadow: O Embaixador das Estradas

Rolls-Royce Silver Shadow: O Embaixador das Estradas

Em 1904, um rico senhor londrino, Sir Charles Stuart Rolls, que era dono de concessionária de carros e piloto, encontrou o engenheiro e industrial Frederic Henry Royce. Ficou impressionadíssimo pelo automóvel que ele havia construído.  Nascia então uma das mais magníficas empresas do mundo dos automóveis: a Rolls-Royce. Sinônimo de potência, luxo, elegância e, principalmente, perfeição. A cidade de Crewe, a 300 quilômetros de Londres, capital da Inglaterra, é sede desta que é a fábrica dos automóveis mais desejados por reis, rainhas, imperadores, nobres, artistas e milionários. Em 1913 falecia Charles Rolls e a Sigla RR que se posiciona na parte frontal superior da grade do radiador o momento, que era vermelha, passava a ser preta. Abaixo um modelo Phanton

Em 1931, a Rolls comprava outra instituição britânica do mundo dos automóveis que se destacava pela qualidade e pela potencia de seus esportivos: a Bentley. Por décadas ambas fabricaram automóveis de sonho. Quebrando tradições e partindo para a modernidade, no salão de Londres de 1965 era lançado aquele que seria o carro mais produzido pela empresa: O Silver Shadow ou Sombra Prateada.

Veio para substituir o Silver Cloud e adotava pela primeira vez na história da fábrica a estrutura monobloco. Suas linhas modernas,mas ao mesmo tempo clássicas eram muito elegantes. Media 5,19 metros de comprimento, altura de 1,51, entre-eixos de 3,03 metros e 1,80 de largura. O peso deste bonito quatro portas era 2.250 quilos.

Na frente os quatro faróis redondos eram separados pelo belo e imponente grade do radiador, sendo que sobre este estava o mascote “Spirit of Ecstasy – Espírito de Êxtase” pequena escultura de uma mulher alada que acompanha todos os produtos da marca desde 1911 e se tornou célebre. Foi modelada por Charles Sykes seguindo sugestões do Lorde Montagu de Beaulieu. Foi introduzido pela primeira vez em 1911, moldado e acabado artesanalmente, pelas mãos de Charles Sykes e sua filha Josephine. Um outra versão foi feita em 1934, mas sem muitas mudanças ate a presente data. Seu molde era em cera perdida e suportava temperaturas de até 1.600 graus. Hoje pode-se ter em prata, vidro ou banhada a ouro de 24 quilates e produzida por uma empresa especializada em Southampton, maior cidade portuária do Reino Unido . Em alguns países, por questões de segurança, foi proibido o ornamento que podia ferir mais em caso de atropelamento. Passou a ser retrátil e a estátua podia ser recolhida em caso de acidente, ou pelo próprio proprietário que a colocava para dentro da grade. Neste caso também afastava os olhos dos amigos do alheio. A regra servia também para os modelos da Jaguar, Mercedes-Benz…

A perfeição mecânica debaixo do capô traduzia-se num motor de oito cilindros em “V” a 90 graus, 6,23 litros (6.230 cm³), taxa de compressão de 9:1 e equipado com dois carburadores da marca SU. Potência: – suficiente! Conforme fazia há anos, esta não era divulgada pelo construtor. Tampouco o torque, mas era de 46 mkgf . Estimava-se que potência era em torno dos 210 cavalos a 4.300 rpm. A tração era traseira e a caixa de três marchas automática. Esta, de origem americana, era a GM type 400. Os tradicionais Lordes ingleses torciam o nariz por causa desta heresia. A alavanca seletora, assim como o visor, ficavam sobre a coluna da direção.

Usava pneus 235/ 70 HR 15 e para frear contava com quatro freios a disco e servofreio. Em termos de performance, atingia 190 km/h de velocidade final e a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 11 segundos. O Silver Shadow não era um esportivo. Era um carro para rodar com conforto e suavidade. Apesar disso, a estabilidade era impecável e as acelerações muito boas. Tratava-se de um carro que nunca usou pneus de perfil baixo, controle de tração e outros artifícios modernos que ajudavam motoristas menos hábeis. Seu consumo em uso urbano era de 5,0  km/l e em estrada, a 90 km/h poderia chegar aos 7,0 . A capacidade do tanque era de 100 litros. Mas quem compra um RR não se importa muito com o consumo. É um dado irrelevante. 

Por dentro era empregado os mais caros e refinados materiais. O famoso couro Conolly revestia bancos e portas. Muito conforto, luxo e o mais absoluto silêncio ao rodar. Uma das histórias que rondam as lendas inglesas, que só era admitido escutar o tiquetaque do relógio. O pecado era o volante que parecia ter vindo de um caminhão de entregas da década de 30. O painel era completíssimo. Os relógios fixados em madeira nobre – nogueira – de excelente qualidade eram fartos. Como em todos os Rolls, este também não tinha conta-giros. Mas contava com  velocímetro graduado em milhas e quilômetros por hora, amperímetro, pressão de óleo, temperatura do motor, nível de combustível, etc… 

Em 1966 era lançado o modelo cupê. Tinha o mesmo tamanho e características mecânicas que o modelo sedã quatro portas. Não tinha a coluna B e com os vidros laterais abertos, ficava mais belo ainda. Mantinha a classe da marca. Mas não foi muito encomendado e sua produção terminou em 1971. Apenas 1.341 foram fabricados e hoje são muito cobiçados. A carroceria era em aço estampado e as portas, capô e tampa do porta malas em alumínio.

Em 1967 era lançado o conversível mais elegante e cobiçado do planeta. E também o mais caro dos “Cabriolet”. Quando a capota estava abaixada ficava ainda mais admirável e charmoso. Lógico que o sistema para montá-la era elétrico. E muito preciso e silencioso. No painel, havia uma plaqueta metálica identificando o fabricante da carroceria: o famoso atelier Mulliner-Park Ward situado em Londres que fazia parte do Rolls-Royce Car Group. Este modelo não era montado em Crewe como o sedã e o cupê.

Em 1969 era lançada a versão LWB (Long Wheel Base). Tratava-se do mesmo modelo só que era mais longo, medindo 10 centímetros a mais entre-eixos. E custava 15 % a mais. Tinha a climatização separada para os passageiros de trás e mais conforto para as pernas dos mesmos. 

Em 1971 o conversível mágico recebia o nome de Corniche, nome de uma estrada com vista para paisagens belíssimas na costa azul francesa.  Este nome ele o conservaria por vários anos até o final de sua produção em 1987. Sua carroceria permaneceu quase que inalterada durante anos. Mas até hoje é irresistível, para quem tem caixa…

Tal como o cupê, mantinha as mesmas características técnicas. Era mais pesado, 2.360 quilos, devido a reforços estruturais. Para todos os modelos, neste ano, o motor passava a ter 6,75 litros de cilindrada. Um detalhe charmoso era a palheta de limpadores dos faróis que ficava exatamente no meio dos pares dianteiros.

A produção maior era do modelo quatro portas. Vinha com a carroceria em um ou dois tons. Os pneus faixa branca eram encomendados junto com equipamentos mais sofisticados tais como telefone, geladeira, televisão, etc… Os vidros, a regulagem dos bancos, que pareciam mais poltronas de reis, acionamento da antena e do rádio,  era tudo com acionamento elétrico. Exceção feita à regulagem dos retrovisores, que era manual…

Foram fabricados 16.717 Rolls-Royce Silver Shadow I Saloon  entre 1965 e 1977. Em março de 1977 o modelo mais longo era chamado de Silver Wraith ( Espectro Prateado) II. Nome já era utilizado numa versão fabricada entre 1946 e 1959. Neste mesmo ano é lançada a fase II com pouquíssimas modificações em todos modelos. Os para-choques estavam mais modernos, sem garras de proteção e maiores. Abaixo do dianteiro era notado um discreto spoiler e faróis de longo alcance.

De 1977 a 1980 foram fabricados  8.425 Rolls-Royce Silver Shadow II e 2.145 Rolls-Royce Silver Wraith II. Em 1978 a Rolls fabricou 3.348 carros incluindo todos os modelos. Mantinha uma regularidade na produção anual.

Em 1980 cedeu lugar ao Silver Spur (abaixo) mais moderno, mas herdava o ar do antecessor.

O Silver Shadow ainda faz presença por onde passa. Neste mesmo ano a RR se associou-se a Vickers, empresa aeronáutica renomada no mundo inteiro.

Em 1987 o Rolls Royce Corniche foi uma das estrelas do 2º Festival do Conversível e da Moda. Neste ano foram produzidos, junto com seu irmão gêmeo, o Bentley Continental, 300 exemplares por ano sendo que 80 % eram destinados ao mercado norte americano. Neste ano já era equipado com freios ABS e o carburador da marca Solex tinha corpo quádruplo. Fontes fidedignas informavam que ele era ligeiramente mais potente que o sedã. O Silver Shadow foi o responsável pela entrada da Rolls na idade moderna do mundo  automobilístico e se aposentou em 1980 cedendo a coroa e o tapete vermelho para Silver Spirit e o Silver Spur.

O Bentley T Series Standard Saloon, lançado em outubro de 1965 é idêntico ao Silver Shadow.  A única diferença é a grade do radiador. Não tem a estatueta e não era feita artesanalmente. A atriz que nos divertiu tanto, Elizabeth Montgomery, A feiticeira, teve seu Bentley leiloado há alguns anos.

Na cor marrom metálico, era muito bonito. Hoje um Silver Shadow vale, em bom estado, quase todos são, pecado deixar uma obra desta estragar, cerca de 30.000 dólares na Europa. Ao todo foram 31.175 exemplares produzidos. Hoje a marca pertence ao grupo alemão BMW desde 1999. Sua irmã Bentley ao Grupo Volkswagen.


Caso/Lenda

Conta-se que, na década de 50, um senhor muito rico que morava ma Europa, teve sua viagem rodoviária interrompida, pois seu RR estragou. Ele se comunicou com a fábrica que o atendeu prontamente enviando um técnico para reparar o belo automóvel. Muito honesto, dias depois, este proprietário enviou uma carta a fábrica exigindo a fatura para poder quita-la. A empresa respondeu de forma incisiva: – Não temos tal ocorrência em nossos registros. O senhor deve estar enganado! Um Rolls nunca estraga !

Garantia – A garantia de um Silver Shadow na época era de três anos ou 150.000 quilômetros. Quem se importa? – Ele não estraga mesmo!


Lavagem

Um dos grandes compromissos de um proprietário não era nem tanto zelar pela mecânica. Desnecessário ….. Manutenção sim. Lavar o carro todos os dias.


Nas telas

O Silver Shadow nos brinda em 007 a Serviço de sua Majestade interpretado George Lazemby (acima). Em 007 contra o Homem da Pistola de Ouro, Somente para seus olhos(abaixo).

No Rio de Janeiro em 007 Contra o Foguete da Morte

E em Octopussy. Todos vividos pelo ator Roger Moore falecido recentemente. E também em 007 Licença para Matar com Timothy Dalton.


Em Escala

A Matchbox inglesa fez os dois modelos nos anos 60 e 70 o modelo Silver shadow vinha na cor bordô e o Corniche dourado com bancos marrom. Muito bonitos e mediam 75 milímetros e a tonalidade da pintura seguia os padrões do carro em escala original. Ficaram no catálogo durante anos. Depois veio o Silver Spirit em 1986, na imagem à esquerda. No alto, o prata e preto é um Corniche cupê da Corgi inglesa na escala 1/32. Abre portas, capô e porta-malas. O conversível marrom é da Solido francesa na escala 1/43.

Nota: A miniatura da série 007  infelizmente não chegou à capital mineira.


Nas Pistas

Difícil de acreditar, mas os Silver Shadow já participaram de ralis. O primeiro foi o Rali da Copa em 1970. Completamente desfigurado e inadequado para este tipo de prova. Seu nome não constou na lista dos 25 primeiros.

Tornou a voltar a fazer parte de outro rali longo: O Paris-Dakar de 1980!  A façanha foi patrocinada pela revista semanal francesa Paris-Match e pelo criador de moda e estilista Pierre Cardin que anunciava no carro branco seu perfume recém-lançado Jules. O carro foi percebido. Foto: Salão Rétromobile.


Texto, fotos e montagem Francis Castaings                                                           

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