Lido Anthony,Lee Iacocca: O Auto Empreendedor
São vários os homens de sucesso e emblemáticos no mundo do automóvel. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa onde os primeiros automóveis tomaram as ruas e as fábricas começaram a produção em massa.
Nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial os carros estavam sem muita renovação assim como na Europa. Esta renovação necessária começou no final da década de 40 com carros mais baixos no que se refere à altura de carroceria e também altura do chassi em relação ao solo. Estavam mais agradáveis e menos sisudos.
Foi nesta época que um dos mais famosos homens da indústria automobilística mundial começou a trabalhar na Ford Motor Company em Dearborn localidade esta perto de Detroit no Estado de Michigam. Trata-se de Lido Anthony Iacocca, nascido em outubro de 1924 na cidade de Allentown no Estado da Pensilvânia. Era filho de imigrantes italianos, Nicola Iacocca e Antonietta Perrotta que saíram do sul da Itália, perto de Nápoles, no início do século XX para ganhar a América. Quando o pequeno Lido nasceu os pais começavam modestamente um pequeno negócio de cachorro-quente chamado Orpheum Wiener House.
O empreendimento cresceu, sobreviveu duramente a grande depressão que começou em 1929 e após a guerra, já com muitos tios vindos da Itália, mudou o nome para Yocco’s e faz sucesso até hoje.
Antes da depressão a família era muito prospera e rica. Seu pai chegou a ser sócio de uma empresa de aluguel de carros juntamente com os negócios de alimentos.
O jovem Lido Iacocca teve uma infância e adolescência feliz, pois se dava muito bem com a mãe, pai e a irmã Delma. Seu pai gostava de máquinas, tinha uma motocicleta, mas de tanto cair tomou raiva de tudo que tinha duas rodas. Nem para o filho deu uma bicicleta que Lido dava voltas escondido com amigos. Mais tarde o senhor Nicola comprou um Ford T e sempre que tinha tempo gostava de trabalhar na mecânica deste carro popular.
Lido frequentou bons colégios em sua cidade natal, estudava muito e era muito dedicado. Os pais eram severos, pois não tiveram oportunidade de estudar. Quando Lido e a irmã não tiravam notas boas a temperatura esquentava em casa.
Na adolescência, para sua infelicidade teve febre reumática que lhe trazia dores terríveis. O tratamento foi demorado, com remédios rústicos e dolorosos. A medicina não estava muito avançada nesta época. Gostava muito de Beisebol e não pode praticar por conta da doença. Foi para as mesas de baralho, adorava jogar pôquer o que lhe deu muita astúcia no futuro.
Patriota alistou-se nas forças armadas, mas também não deram-lhe um posto avançado por conta da doença, já curada, mas a rigidez da Força Aérea não permitia. Já que dirigia o carro do pai, com consentimento deste, desde os dezesseis anos de idade, dirigia ambulâncias, jipes e caminhões. Ficou magoado por não combater, mas orgulhoso de ter cumprido o dever.
Após este período cursou o ensino superior na Lehigh University em Bethlehem não muito longe de Allentown. Manteve as opções de Engenharia mecânica e de produção. Não se dava bem com matérias como física, hidráulica, termodinâmica e química o que lhe forçou a optar por Engenharia de Produção que tinha matérias administrativas, contabilidade e estatística que ele dominava com facilidade.
Já tinha na cabeça que queria trabalhar na Ford antes de se formar. Tinha um Ford modelo 1938 com oito cilindros em “V” e apenas 60 cavalos. Não achava o carro bom, pois quebrava e ele dizia que queria trabalhar em Dearborn para melhorar as máquinas lá produzidas.
Formou-se, fez várias entrevistas, foi aprovado na maioria, mas queria a Ford. Na época um encarregado importante, um caçador de talentos, percorria várias universidades do país e entrevistava os rapazes aprovando ou não. E Lido Iacocca foi escolhido. Na mesma época a Universidade de Lehigh enviou-lhe uma carta quando estava de férias comunicando que lhe era oferecido uma bolsa de estudos que cobria todos os gastos para fazer pós-graduação na Universidade Princeton localizada em Princeton, estado de Nova Jersey. Enviou uma carta para a Ford informando o fato e recebeu a reposta que queria. A Ford ia guardar seu lugar.
Em agosto de 1946 Lido estava na fábrica como estagiário. Ele e os outros novatos eram obrigados a conhecer todas as instalações. Da mina de ferro da companhia, a fundição, estampagem, montagem, depósitos de peças, departamento de compras, refeitório e até o ambulatório. Gostou do que viu, trabalhou, ajudou em algumas rotinas, mas não morreu de paixões.
Era engenheiro, mas não queria ficar na fábrica. Queria ver gente todos os dias, trabalhar fora e atuar na área de vendas. Conversou com seus superiores que lamentaram sua saída e lhe fizeram uma carta de apresentação para trabalhador com os revendedores Ford. Não o ajudariam seria apenas a carta. Foi para várias importantes cidades dos Estados Unidos e na maioria não foi bem recebido até conhecer Charlie Beacham. Este homem de vendas que já estava no ramo há anos forneceu bons ensinamentos ao jovem Lido. Iacocca aprendeu muito com ele e ia vender carros e caminhões para frotas. Num automóvel da fábrica rodava muito pelas estradas americanas cobrindo toda a Costa Leste e carregando um mini-escritório com pranchetas, quadros, projetores de slides e catálogos.
O mais interessante que foi nesta época, após muitas vendas, palestras e entrevistas que resolveu se apresentar como Lee já que a maioria das pessoas tinha dificuldade com o Lido e muito também com o Iacocca. A Ford se modernizava e um de seus primeiros produtos novos do pós-guerra foi o modelo 49 que gerou um sedã, uma Station Wagon e o belo Club Cupê.
A década de 50 mudou muito no continente norte americano. Os carros estavam maiores, mais coloridos, mais ousados em termos de estilo e mais potentes. Era a retomado do crescimento e as várias empresas americanas faziam de tudo para agradar o cliente.
Na metade da década de 50 as vendas decolavam até que Lido teve a brilhante ideia de fazer o plano 56 / 56. Era o ano de 1956 e o cliente ia pagar o carro em 56 vezes. Foi um sucesso estrondoso. Nesta época eram fabricados o Fairlane, o Victoria, o Crown, o esportivo Ford Thunderbird e as picapes F-100.
O segmento dos sedãs enfrentava forte concorrência da linha Chevrolet Bel Air da General Motors. Também em 1956 casa-se com Mary McCleary. Já a conhecia há algum tempo, mas devido a inúmeras viagens a trabalho não conseguiam conciliar datas. Nesta época conheceu outro nome importante do cenário americano. Era Robert Strange McNamara que era vice-presidente da divisão Ford.
Em 1959 McNamara lançou o compacto simples Ford Falcon que no mesmo ano vendeu 417.000 unidades. Era um carro simples, robusto e bom para o povo rodar.
Um ano depois este homem era o primeiro presidente da Ford que não pertencia à família. Também em 1960, Lee, com apenas 36 anos, ocuparia a o cargo de vice-presidente e gerente geral da Divisão Ford. Havia conhecido o todo poderoso Henry Ford. A indicação ao cargo havia sido dos amigos Charlie Beacham e Robert McNamara. Na análise de Lee o Falcon apesar do sucesso não trazia muito retorno financeiro ao grupo. O homem já tinha ideia de fazer um carro de custo barato que atendesse uma grande clientela com uma ampla opção de acessórios, de aspecto jovem e carroceria muito atraente.
Começava os anos 60, o país se sentia jovem e muito motivado por seu presidente John Fitzgerald Kennedy. A Ford tinha o sucesso do Falcon, mas havia perdido dinheiro com o modelo Edsel, acima, e precisava recuperar.
O Presidente McNamara havia incumbido Lee de visitar a filial alemã a fim de conhecer o projeto Cardinal. Tratava-se de um carro pequeno com um motor V4 e com linhas pouco usuais para o mercado americano. Lee não gostou. Queria outro carro para o americano.
Em 1964 era lançado o Ford Mustang que se tornou um sucesso de vendas logo quando da apresentação. Era filho de Lee Iacocca e ele estava muito orgulhoso de seu projeto maior. Neste mesmo ano era capa da prestigiada revista norte-americana Time. O Mustang utilizava várias peças do Falcon e por isso o projeto custou menos do que se esperava. A Ford colocou anúncios em 2.600 jornais do país para mostra seu produto a jovens, senhores, senhoras, a pessoas de todas as idades.
Em 1965 ocupava a vice-presidência do grupo sendo responsável pelo planejamento, marketing de automóveis e caminhões das linhas Ford, Mercury e Lincoln.
Dois anos depois já havia vendido um milhão de Mustang’s nas versões cupê, conversível e fastback. O carro de dimensões compactas era um sucesso absoluto. Nesta época também já estava em fase de lançamento outro sucesso do grupo: O Mercury Cougar também esculpido da genialidade de Iacocca.
Em 1968 aqueles que gostavam de carros grandes podiam contar também com o Lincoln Continental Mark III outra bela jogada de Iacocca.
Tudo ia muito bem, pois Iacocca pensava na presidência e também pensava que seria o novo presidente do grupo até que em 1968 contrataram Semon E. “Bunkie” Knudsen que era da GM e fora para a Ford ocupar o cargo máximo ganhando uma fortuna por ano.
Essa aventura durou pouco, pois por desentendimentos em 1970 Bunkie deixava o cargo e finalmente Lee Iacocca era reconhecido e tornava-se presidente da empresa. Um ano depois mais um produto do novo presidente chegava: Era o Ford Pinto um carro muito compacto para os padrões americanos.
Em 1973 Lee recebia um golpe grande. Seu querido pai falecia.
Em 1974 era lançado o Mustang II. Não era o mesmo carro nem tinha o vigor e a juventude do belo automóvel da década de 60, mas era mais adequando a crise do petróleo deflagrada em 1973. Abaixo um Ford Granada 1975
Havia também uma crise dentro dos escritórios da Ford e os nervos estavam aparecendo. O todo poderoso Henry Ford II não suportava o sucesso e arrojo de Lee Iacocca. Após 32 anos de ótimos serviços prestados foi sumariamente demitido. O patrão não gostava dele. Todos estavam estupefatos. Mas como gente de alta competência não fica para trás, mas infelizmente ficou deprimido por uns dias, no mesmo ano foi chamado para presidir a Chrysler que estava em péssima situação financeira. Não sabia bem por onde começar, mas juntou uma ótima equipe, cortou gastos, grandes salários e obteve um bom empréstimo do governo que não demorou a ser saldado. Lee Iacocca tirou a Chrysler do buraco antes do esperado, apenas sete anos depois, graças a sua genialidade que não parava de iluminá-lo.
Seus trunfos foram os fenômenos Dodge Caravan e seus derivados Plymouth Voyager e Dodge Mini RamVan. Estes monovolumes compactos foram copiados em todo o mundo. Outra linha de sucesso sob sua batuta foram os K-Cars que eram compactos com tração dianteira. Era o Dodge Áries para os americanos e Dart para os mexicanos. Em 1981 ele ganhou o prêmio de Car of the Year, ou seja, carro do ano.
Em 1983, Lee recebia um grande golpe com a morte da esposa Mary, que lutava contra a diabete. Com as filhas Kathi e Lia, formavam uma família unida. Uma jogada de mestre foi ter comprado a American Motors em 1987, pois no pacote vieram os Jeep’s, símbolo da tendência por utilitários esporte que ganhava corpo.
No ano seguinte criou a divisão Eagle. Fez associação com a Mitsubishi, trazendo do Japão tecnologias e montando uma fábrica em Normal, Illinois para produzir modelos em conjunto. Outro antigo parceiro que veio a se juntar a ele era Carroll Shelby, que fez para a Chrysler versões mais rápidas de compactos como o Dodge Charger.
Em 1992 aposentava-se da Chrysler para se dedicar à consultoria e à Fundação Iacocca pela Diabete, instituição criada por ele sem fins lucrativos para pesquisas contra esse mal que atinge milhões de pessoas no mundo. Sempre foi um homem bem relacionado com os presidentes dos EUA, que também o admiravam, desde John Kennedy e Jimmy Carter até Ronald Reagan, com quem tinha mais afinidade.
Em 2009, por ocasião dos 45 anos do Mustang, lançava a série especial Lee Iacocca Silver 45th Anniversary Edition do modelo, com motor V8 de 4,6 litros e 320 cavalos ou, se equipado com compressor despejava 400 cavalos.
Em 2010 lançou o terceiro livro, “Cadê os Líderes”, que se soma a Iacocca: Uma Autobiografia e Falando Francamente. O mestre continua a nos ensinar.
O grande Lee Iacocca faleceu em dois de julho em sua residência no bairro de Bel-Air, em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. Tinha 94 anos, em sua morte foi em consequência de complicações de Mal de Parkinson.
Texto, Fotos e montagem Francis Castaings. Demais fotos de publicação
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