Santa Matilde: Desempenho e Beleza num Designer Feminino há 45 anos
O Santa Matilde usou a ótima mecânica do Chevrolet Opala e foi fabricado em Três Rios, no estado do Rio de Janeiro, entre 1977 e 1997 pela Companhia Industrial Santa Matilde que fabricava vagões ferroviários. O Presidente da empresa, o Sr. Humberto Pimentel, apreciava bons carros esportes.
Fibra com motor Opala – O Santa Matilde fez bonito como um carro fora de série com linhas inovadoras e com motores da linha Chevrolet Opala. Abaixo o primeiro protótipo que foi recuperado, estava bem deteriorado, mas fizeram uma excelente restauração. Foi encontrado em 2007 em Três Rios, Rio de Janeiro, em péssimas condições.
O primeiro exemplar, este protótipo, ficou pronto em 1977, mas apresentava alguns problemas: Estrutura, dirigibilidade e ergonomia.Era um cupê para dois passageiros como motor dianteiro longitudinal e tração traseira. Sanado os problemas e com alterações felizes na carroceria, foi apresentado em 1978, no Salão do Automóvel de São Paulo, no Pavilhão de Exposições do Anhembi que era palco há vários anos do salão. O alvo do Santa Matilde era o Puma GTB (abaixo) que começou a ser fabricado em 1976 (Saiba mais)
O primeiro esportivo nacional a usar uma mecânica Chevrolet com seis cilindros em linha foi o Brasinca Uirapuru.
Este é o primeiro protótipo
Foi restaurado e está em belo estado
Foram expostos vários modelos em Juiz de Fora, Minas Gerais
Uma bela homenagem no XXI Encontro do Automóvel Antigo de Juiz de Fora no Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em agosto de 2017
Um modelo da última geração usando o grupo óptico do Volkswagen Santana. Esta mudança ocorreu no final de 1986.O carro tinha melhor estrutura e o desenho da carroceria um pouco alterado. Estava mais atualizado.
E o belo cupê visto de lado
O primeiro modelo apresentado (abaixo) tinha dois volumes, era quase um hatch, mas não tinha a traseira truncada. Tinha 4,18 metros de comprimento, 1,71 de largura, 2,37 de entre-eixos e 1,32 de altura. Pesava 1.280 quilos. Sua carroceira monobloco era em plástico reforçado com fibra de vidro e foi desenhado por Ana Lydia, filha do Presidente da empresa, o Sr. Humberto Pimentel e Rose Valverde. A empresa carioca, também tinha uma unidade fabril, exclusivo para produtos ferroviários na cidade mineira de Conselheiro Lafaiete.
O modelo apresentado no salão tinha linha curvas, ausência de frisos cromados, ótima visibilidade para um esportivo, quatro faróis circulares na frente, luzes de seta na cor âmbar, grade preta com frisos horizontais, para-choques na cor da carroceria com protetores de borracha. Usava rodas de liga leve (alumínio) com desenho exclusivo e pneus na medida 205/70 HR 14. Mais do que adequados ao carro. E tinha uma ótima estabilidade se mostrando muito equilibrado em curvas de alta velocidade. Sua suspensão dianteira era independente, tipo McPherson, braços superiores triangulares e inferiores simples. Tinha barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Atrás eixo rígido, barra transversal tipo Panhard, barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores telescópicos. Tinha freios a disco nas quatro rodas. Sua carroceria monobloco era apoiada em um chassi de aço galvanizado. Este processo era feito dentro da empresa.
Usava a mesma mecânica do Chevrolet Opala seis cilindros 250, 250-S. quatro cilindros 151-S e uma versão deste com turbo. Abaixo o motor com 4.093 cm³, taxa de compressão de 7,5:1 com 132 cavalos (SAE) a 4.400 rpm. Tinha um carburador de corpo duplo e seu torque máximo era de 27,4 mkg.f. Tinha quatro marchas com alavanca no assoalho e seu tanque tinha capacidade de 54 litros. Na fábrica se fazia a galvanização (operação de recobrir o ferro ou o aço com uma camada de zinco metálico, para fins de proteção contra os efeitos da oxidação) do mesmo. Com esta taxa de compressão podia usar gasolina comum (amarela). Na época havia a gasolina azul com maior octanagem e garantia maior rendimento ao motor. Com esta mecânica, em testes, fez de 0 a 100 km/h em 12 segundos e sua final foi de 180 km/h.
A opção pelo propulsor com 171 cavalos (250-S) era mais adequada ao esportivo.
O cupê foi apresentado em 1982. As mudanças externas foram felizes e o carro estava bem mais harmonioso. O para-brisa degradê era laminado. E a visibilidade muito melhor! Era um três volumes. Desde o início da produção o controle de qualidade era ótimo e rígido!
O carro tinha excelente acabamento e muita instrumentação. O volante tinha quatro raios e sua direção era hidráulica progressiva da marca ZF (Zahnradfabrik Friedrichshafen). No centro do belo painel velocímetro graduado a 240 km/h, conta-giros a 6.000 rpm com faixa vermelha começando aos 5.000 giros, marcadores de temperatura da água, pressão do óleo, nível do tanque de gasolina (agora com 84 litros), amperímetro e um belo rádio toca-fitas AM-FM com dois alto falantes. Havia uma antena embutida no teto que funcionava muito bem! O novo painel era obra de Rose Valverde, sobrinha de Osório C. Pinto, que foi da equipe de desenhistas da Companhia Santa Matilde. Tanto a forração interna quanto ao revestimento do painel, em couro, poderiam ganhar tons em cores diferentes combinando com o restante da carroceria. E com bom gosto! A alavanca de freio de mão ficava bem ao lado do motorista, estava bem posicionada e não incomodava quando o motorista guiava o esportivo. Estava apoiado em rodas de alumínio de 15 polegadas com pneus radiais 215 x 15 PG.
Atrás havia dois pequenos bancos, apenas para serem usados por crianças ! E vinha com ar condicionado! Era o carro nacional mais caro em produção! E tinha como opcional a transmissão automática com três velocidades o que fez perder em aceleração e velocidade final apesar do motor 250-S, mas ganhava mais conforto! Seu motor era o 4100 à álcool que também foi utilizado na época nas picapes Chevrolet C-10 da Genaral Motors
E sua versão conversível. O chassi do SM recebeu reforço para que o “cabriolet” apresentasse uma estrutura sólida. Tinha ótima estrutura superior aos concorrentes. Um bom conversível é mais pesado que seu derivado cupê por conta dos reforços para não haver torção na carroceria.
O para-brisa também teve seu ângulo mais inclinado em relação ao cupê. Ao todo foram 62 unidades vendidas compreendidos os cupês e conversíveis em 1984.
Tinha capota de lona e uma fixa fornecida pela fábrica.
A partir de 1982 os clientes não contavam mais com o opção do motor 151-S do Opala que foi oferecida entre 1980 e 1981. A demanda foi muito baixa e um carro destes é muito raro hoje.
Em 1997 o belo, luxuoso e com ótimo acabamento Santa Matilde deixava de ser produzido. O último exemplar produzido tinha mecânica do Chevrolet Omega que utilizava o motor alemão 3,0 litros com seis cilindros em linha e 165 cavalos. Se este modelo raro estiver em bom estado deve ser um carro muito interessante!
Foram 490 unidades do primeiro modelo, 371 cupês e 77 conversíveis num total de 937 modelos que ganharam as ruas e poucos clubes regionais e proprietários tratam de conservá-lo muito bem! Além do Puma GTB, foi apresentado em 1993 um esportivo, chamado Mirage, no Rio de janeiro, com mecânica Opala quatro cilindros e o Lafer LL, apresentado em 1978, com mecânica Opala seis cilindros, projetado por Rigoberto Soler (professor espanhol de desenho de automóveis na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) de São Bernardo do Campo, ambos com grande inspiração no desenho do Mercedes-Benz SL da terceira geração para fazer concorrência ao Santa Matilde. Mas não chegaram ao estágio de produção.
Infelizmente, como a maior parte dos carros de pequena produção em território nacional, sofreu com a concorrência dos importados que chegaram na década de 90. Houve também problemas com sindicatos, uma nova diretoria assumia a fábrica que não se interessou em continuar a produção de um dos esportivos de grande destaque nacional.
Um cupê premiado em Águas de Lindóia em 2018. Sua capota foi moldada a partir de um Mercedes-Benz SL, geração R107, terceira do modelo. Veja mais no V Encontro Brasileiro de Autos Antigos
Premiado em Araxá em 2018
Texto, fotos e montagem Francis Castaings
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