Shark: O tubarão brasileiro que não sobreviveu
O Shark foi um esportivo com carroceria em plástico reforçado com fibra de vidro produzido aqui no Brasil pela fábrica de caminhões tanque e reboques Trivellato S.A. O Shark tinha chassi e mecânica Volkswagen a ar podendo ser colocado sobre o chassi do Volks usando os motores 1.200, 1.300, 1.500 e 1.600. A base do Karmann-Ghia também era aceita.
O carro foi importado por Walter Ristori, genro do presidente da fábrica Trivellato S.A. Mas em princípio sem a licença da empresa Fiberfab situada na Califórnia, nos Estados Unidos que era especialista desde 1964 nestes tipos de carroceria fazendo mais de uma dezena de carrocerias.
Lá, no fim da década de 70, além do modelo Shark, que era uma cópia do Avenger, era produzido outros modelos distintos como o Aztec 7, O Bugue Cobra Jet, o Jamaican IV e o Migi II que era uma réplica de um carro dos anos 30. Além da mecânica VW, também usavam o motor com seis cilindros opostos (boxer) do Chevrolet Corvair. Todos com tração traseira, caixa de quatro marchas e motor também atrás. Seus carros também eram produzidos na Alemanha, Suíça, Inglaterra, África do Sul e Finlândia. E alguns modelos anos depois sob licença no Brasil.
Poderia seguir bela carreira por usar uma das mecânicas mais versáteis do mundo que é do Volkswagen com motor quatro cilindros opostos (Boxer). Equipou o Bianco, quase todos os carros fabricados pela Gurgel, o MP Lafer, Bugues, o Adamo, o Lorena, o Squalo, L’Auto Phor, Ventura, os primeiros Miura (nacionais), o Renha, o Jipe Jeg da empresa Dacunha, réplicas de antigos Bugatti 35 B, Alfa Romeo 1931 Monza, Mercedes-Benz 1929 Gazelle e até a motocicleta marca Amazonas utilizaram o motor VW a ar. Todos baseados nos Porsche refrigerados a ar. Originais ou réplicas. O Shark era um carro bonito, com ótima abertura de capô traseiro facilitando a manutenção, portas e capô dianteiro idem. O modelo aqui teve a capota elevada em cinco centímetros para facilitar o acesso ao motorista e passageiro.
O carro importado tinha pintura metálica, tapetes de veludo, bancos com desenho esportivo em courvin, um painel de dar inveja a muitos esportivos com velocímetro graduado a 200 km/h, conta-giros, um útil amperímetro, relógio de horas, manômetro e termômetro de óleo e marcador de nível de gasolina. Feitos os moldes, a empresa anunciava que não vendia o carro pronto, só em Kits. E não custava barato! Era um carro bonito que tinha inspiração clara no Ford GT-40 de competições e tinha condições de fazer frente ao Puma GT e ao Lorena GT, outra cópia de um GT americano.
Na época o esportivo chegou a ser testado por duas revistas de prestígio nacional em 1970 que elogiaram o modelo. Mas pouco depois descobriram que não se tratava de um projeto nacional e nem era autorizado pela empresa americana. E afirmaram numa das seções da revista: “Shark: Um Brasileiro de Mentira?” A produção do esportivo foi interrompida em 1973.
Meses depois da apresentação do Shark, a imprensa revelou ser o mesmo cópia fiel de um modelo da Fiberfab. A famosa e íntegra empresa Trivellato foi desmascarada. Tirou o carro de produção, após terem sido construídas entre 30 e 40 unidades. Esta fraude, que colocou a imagem de seu fundador, já idoso, em má situação, pois foi ingenuamente induzido a fabricar o Shark sem saber de suas verdadeiras origens. Com isso, o efeito foi devastador e começou o inicio da decadência da empresa Trivellato.
Em 1977 o catálogo de produtos oferecidos pela empresa era grande, contendo vários produtos. Com dificuldades de coordenação e de controle de custos estava muito endividada. O Shark foi um dos culpados. A Trivellato entrava em a falência no ano de 1986. Todos com mais de 40 anos se lembram muito bem das carrocerias Trivellato para caminhões com carrocerias tanque. Tinha filiais no Uruguai e na Argentina. Seu nome era: Oficinas Reunidas Ernesto Trivellato S.A
Texto, fotos e montagem Francis Castaings.
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