Kaiser Carabela: Pompa Argentina
Nosso país vizinho ao sul, a Argentina, é mundialmente conhecida pelo tango, pela bela capital Buenos Aires, pelos vinhos e por seu famoso churrasco citando só algumas qualidades. Mas é um país com muita tradição automobilística, pois é terra natal do pentacampeão mundial Juan Manuel Fangio. Nos anos 70, o piloto Carlos Reutemann e o preparador Orestes Berta eram destaques na imprensa automotiva. Berta fez ótimos trabalhos em motores para carros de competição no Brasil.
E poucos sabem que a indústria automobilística deles começou antes da nossa brasileira. Foi através da eleição do presidente, em 1946, Juan Domingo Perón, que foi reeleito em 1952 que tomou impulso nos mesmos moldes da nossa.
Nesta época, Henry J. Kaiser, proprietário da Kaiser Motors Corp americana, que produzia automóveis de classe, mas impotente diante das três grandes Ford, General Motors e Chrysler, via sua empresa em franca decadência devido à alta concorrência. Porém era um homem de visão e queria que sua empresa sobrevivesse. Após pesquisas e várias negociações, resolveu se instalar na Argentina, precisamente na província de Córdoba, na cidade de Santa Isabel e criou a IKA – Indústrias Kaiser Argentina. Teve apoio do governo e também de empresários locais. O complexo fabril ocupava cerca de 200 hectares.
O empresário mudou-se para o país em 1954, trouxe junto todo o equipamento dos Estados Unidos, cerca de 9.000 toneladas. Começou primeiramente a fabricar o Kaiser Jeep e depois o Kaiser Estanciera derivada deste (idêntica a nossa Rural ), pois a Willys Motors Inc. era uma filial da Kaiser. Também neste ano trazia o grande sedã Kaiser Manhattan, lançado lá em 1951, para testar o gosto dos argentinos.
E, em 1958, baseado no Manhattan, o Kaiser Carabela ganhava as ruas de Buenos Aires e de todo país. Este grande sedã de quatro portas que tinha três volumes e linhas muito arredondadas. Não era nenhum um pouco convencional. Nem os amplos vidros escapavam das linhas curvas. Chamava muito a atenção por onde passava. Pelo porte e pelas linhas pouco convencionais. Seu nome era em homenagem as caravelas que navegavam nos séculos XV e XVI.
Grande media 5,47 metros de comprimento, 1,90 de largura, 1,54 de altura e tinha 3,01 metros de entre-eixos. Inseridos numa moldura metálica cromada de formato oblongo, em posição vertical, seus faróis eram circulares. Sua grade e a entrada de ar sobre o capô eram cromados e bem visíveis. Seus para-choques eram parrudos e havia também fartura de cromados nas laterais. Estava na moda. Atrás tinha um discreto rabo de peixe e lanternas de bom tamanho. Normalmente vinha em duas cores sendo que a do teto era sempre mais clara.
Por dentro era confortável para seis pessoas. Tanto o banco dianteiro quanto o traseiro dispunha de descansa braço. O grande volante em baquelita tinha dois raios e um aro cromado para a buzina. Dispunha de ampla instrumentação em seu painel metálico. A alavanca de marchas ficava na coluna de direção.
Seu motor era dianteiro era longitudinal, arrefecido a água, com seis cilindros em linha tinha 3.707 cm³ (84.138 x 111.125 mm) de cilindrada. Sua potência era de 116 cavalos a 3.800 rpm e era alimentado por um carburador de corpo duplo da marca Carter.
Sua taxa de compressão era de 6, 86:1 e seu torque máximo era de 24.89 m.kgf a 2.000 rpm. As válvulas eram laterais. Era o mesmo motor usado no utilitário Estanciera. Sua tração era traseira e a caixa de marchas tinha três velocidades sendo duas últimas sincronizadas. Como opcional poderia ter overdrive ou automática de duas velocidades.
Fazia de 0 a 100 Km/h em 22 segundos e sua velocidade máxima era de 138 km/h. O desempenho fraco era consequência de seu alto peso, cerca de 1.638 quilos e o propulsor já era um tanto antiquado. Nos Estados Unidos sua produção terminou em 1955 e o motor era equipado com um compressor McCulloch que lhe dava muito mais saúde. Seu consumo, também não era nada baixo. Fazia cerca de 6,3 km/l na cidade. Este dado, no ano de seu lançamento, não era muito importante, pois na época a Argentina de uma produção de petróleo importante. A capacidade do tanque era de 65 litros.
Sua suspensão era clássica. Tinha rodas independentes na frente, braços triangulares, e molas helicoidais. Atrás tinha molas semi-elípticas. Tanto a frente quanto atrás tinha barras estabilizadoras e amortecedores hidráulicos. Os quatro freios eram a tambor e tinham assistência hidráulica com sistema Bendix-Lockheed. Os pneus podiam ser tanto na medida 6.70×15 ou 7.10×15. Era um carro muito confortável ao rodar em ruas ou estradas.
Este foi o primeiro sedã produzido na Argentina. O Carabela saiu de cena após 8.025 unidades produzidas em 1961. Era um automóvel caro e apenas empresários, políticos e famílias abonadas tiveram acesso a ele. Algumas unidades limusines chegaram a ser produzidas para o governo. E para funerárias também com algumas modificações deixando-o mais longo ainda.
Neste mesmo ano a IKA oferecia dois modelos mais baratos em sua produção. Era o Renault Dauphine, idêntico ao nosso e ao modelo de origem francês e também o sedã Bergatin que nada mais era que um Alfa Romeo 1900 com frente modificada.
Em 1975 a Renault assumia a IKA e mudava a razão social.
O modelo da foto, me foi apresentado gentilmente por seu proprietário que fez questão de conversar sobre este raro e belo carro. Gracias amigo!
No Brasil nos encontros de Araxá onde foi premiado e em Águas de Lindóia
O Restauro de um modelo argentino
O chassi desmontado e limpo.
O apoio da carroceria para o fundo de pintura.
Preparação.
Com os devidos cuidados.
Quase pronta.
Fotos gentilmente enviadas por Lautaro Zuelgaray. Muito Obrigado! Gracias
Texto, fotos e montagem Francis Castaings
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