Willys Dauphine e Gordini: O primeiro automóvel brasileiro com motor Renault

Willys Dauphine e Gordini: O primeiro automóvel brasileiro com motor Renault

Amédée Gordini foi um homem cujo nome sempre esteve associado aos carros da fábrica francesa Renault. Fez monopostos utilizando sempre está mecânica, competindo em provas famosas de cunho nacional e internacional.  Nos modelos de série da marca, aumentava a cavalaria com êxito. O Dauphine, cujo nome código era R1090, foi lançado na França em 6 de março de 1956, no Palácio de Chaillot em Paris. Nasceu para substituir o Renault 4CV, conhecido entre nós como Renault rabo Quente.

Seu estilo foi baseado no irmão maior, o Renault Frégate, sedã médio da marca.Mas foi elaborado pelo engenheiro Fernand Picard e desenhado com auxílio do Estúdio italiano Ghia

Tinha linhas curvas, era compacto e acomodava bem 4 passageiros. Seu concorrente mais famoso na Europa era o Volkswagen sedã, nosso Fusca. Mas o novo Renault o superava em desempenho, conforto interno e comportamento dinâmico. Tinha o conjunto mais moderno também.

Em 1958 foi lançada a versão Gordini (R1091) com para-choques cromados e contornos dos faroletes também. Dois anos depois o motor passou a ter 40 cavalos e um acabamento melhor como bancos mais largos. Pneus faixa branca, carroceria em dois tons(1961) e teto solar faziam parte das opções mais luxuosas. Para disputar o mercado dos EUA, ganhou um cambio automático em 1963. A exportação chegou a perto de 400 unidades por dia.  Sua produção foi encerrada em dezembro de 1967 na França após 2.021.152 exemplares vendidos.

Seus sucessores, o R8, R12, R17 na versão Gordini, sempre na cor Bleu Gordini (Azul Gordini) foram carros de briga e lançaram nomes famosos no mundo das competições. O R12 Gordini chegava a 185 Km/h e arrancava de 0 a 100 Km/h em 12 segundos. Números muito bons em 1972. Este modelo que deu origem ao nosso Ford Corcel, o projeto M12. Infelizmente aqui eles não adotaram esta motorização mais possante.


No Brasil

O Dauphine foi lançado em 1959 pela Willys Overland do Brasil, sob licença de fabricação da Régie Renault francesa. Nosso carrinho, que iria competir com o VW sedã e o DKW, era um sedam de quatro portas com carroceria monobloco, tração e motor posicionados na traseira. O motor Ventoux que o equipava tinha 845 cm³ e 26 cavalos, refrigerado a água. Tinha três marchas sendo que a primeira não era sincronizada. O capô dianteiro dava lugar a um pequeno porta-malas e a abertura era em sentido contra o vento. Ele, o carro da Vemag e o Romi Isetta foram os primeiros carros nacionais com deslocamento volumétrico inferior a 1000 cilindradas. E tiveram versões populares como o Caiçara (Vemag DKW) e Teimoso (Willys).

Era bastante econômico, apesar disso não ser fundamental numa época em que a gasolina era muito barata. Fazia em média de 16 km/l nas estradas

Sua suspensão, independente nas quatro rodas, utilizava o sistema Aeroestable, coxins de borracha cheios de ar à pressão atmosférica, os quais endureciam proporcionalmente ao aumento de carga. Foi modificada em 1966.

Em 1962 foi lançado o Gordini, mais potente, mais robusto e mais luxuoso que o Dauphine. O motor passou a ter 40 cavalos e câmbio agora era de quatro marchas. Alcançava velocidade máxima de 130 km/h, aceleração de 0 a 100 km/h em 28,7 segundos. Era mais guloso que o Dauphine fazendo o consumo ficar em torno dos 12 km/l de gasolina.

Nas propagandas de revista e televisão, aparecia o modelo saltando, com as quatro rodas no ar e salientando os “40 cavalos de emoção”. Começou a fazer sucesso e agradar ao público.

Ganhou as pistas nacionais através da divisão esportiva da Willys. E fez sucesso. Sua relação peso/potência era melhor e neste modelo foi adotado um carburador de corpo duplo, coletores de admissão mais bravos e taxa de compressão mais elevada. A potência do motor para pulou para 55 cavalos. Daí veio a versão 1093 que passou a fazer parte do catálogo. Somente 2.140 exemplares produzidos na França. Era reconhecido pelas finas faixas azuis sobre o capô, teto e tampa traseira.

Na época havia uma propaganda nas revistas com várias fotos pequenas, em quadrinhos, preto e brancas, com seu irmão esportivo Interlagos destacando seu sucesso nas pistas da marca. 

Nosso grande piloto Emerson Fittipaldi venceu uma de suas primeiras provas com um Gordini 1093, na Ilha do Fundão no Rio de Janeiro. Venceu na categoria Estreantes. Vários pilotos de renome nacional castigaram o carrinho. O Gordini esteve presente em corridas em pistas e em vários ralis e raids na época.

O modelo de nome Teimoso, lançado em 1964, veio de uma prova de resistência feita no autódromo de Interlagos. Após ter rodado durante 22 dias, mais de 50 mil quilômetros, capotou e continuou rodando para completar o teste. Esta versão era mais barata que as demais, mais rústica.

Em 1966 foi lançado o Gordini II. Tinha novo carburador e distribuidor, nova alavanca de câmbio, novos estofamentos e novos frisos. A suspensão traseira agora tinha um limitador de curso de borracha. Melhorou muito a estabilidade.

Em 1967 o Dauphine deixou de as linhas de montagem e foi lançado o Gordini III. Vinha com lanternas traseiras maiores, novas relações de cambio, freios a disco nas rodas dianteiras e acabamento interno melhor.

Em 1968 deixou de ser fabricado após 64.000 modelos serem vendidos entre as várias versões existentes. A Willys Overland do Brasil foi vendida a Ford. O projeto M, que deu origem ao Corcel já estava em desenvolvimento desde 1965 junto com a Renault. Lá na França foi lançado o Renault 12 e aqui no Brasil o Ford Corcel em 1969. Foi fabricado na Itália sob licença na Alfa Romeo. Foi também montado na Argentina, Austrália, Irlanda, Israel, Argélia, Bélgica e Nova Zelândia.


Recentemente no BH Classic Auto Fest 2022. Este exemplar veio rodando de Congonhas, cidade do Profetas, em Minas Gerais.


Apelido – Ganhou apelido de um slogan de uma marca de leite em pó dos anos 60/70 por ser frágil. Era o “desmancha sem bater”. Injusto, pois sua estrutura era muito boa, manutenção idem, um ótimo carro para pequenas famílias nos anos 60. Infelizmente poucos exemplares em bom estado de exposição no país.


Em Escala

A Solido francesa, na série Sixties faz um belo modelo em escala 1/43 do modelo 1961 equipado de teto solar. Também existe o modelo 1962 do Dauphine 1093 na versão Tour de Corse – 1/43. A MicroNorev fez uma reedição de miniaturas de carros franceses da década de 50 apresentadas em março deste ano no Salão de Brinquedos Parisiense, inclusive do Dauphine

Aqui no Brasil na coleção Carros Brasileiros e Carros Inesquecíveis, comercializado em bancas, chegou na escala 1/43


Adaptados

Vários proprietários fizeram modificações mecânicas adaptando o motor VW a ar ou o do Ford Corcel sendo esta opção mais fiel ao original, mais adequada e a mais comum. Existem mesmo alguns modelos com mecânica do Escort XR3 1.6 que são muito bravas. Esta motorização foi uma evolução do motor do Corcel com câmaras hemisféricas. O motor do Corcel também é uma evolução do motor do Gordini.


Nas Pistas da Argentina

Um Renault Gordini “Raton Escandaloso” . Motor 1.093 cm³ e 100 cavalos. Caixa Gordini/Oreste Berta com cinco velocidades. Final de 220 km/h.


Nas Pistas

O nome Gordini está escrito nos blocos dos motores de carros de endurance do mundial de marcas (WEC) e até nos primeiros Fórmula Um V6 da Renault.  O melhor do esporte automobilístico antigo pôde ser visto no Tour Auto 2000 que foi realizado na França entre 11 e 15 de abril deste ano. Participavam bólidos como os Matra 660/670 vencedores das 24 horas de Le Mans de 1972 e 1973 quanto os Renault 4CV, Dauphines e Gordinis. Vários circuitos abrigam provas de várias categorias e os pequenos Renault não fizeram feio. Muito pelo contrário. São sempre bem vindos a estas competições de antigos.

Gérard Larrousse, piloto francês de renome, participou de ralis e corridas em circuitos. Pilotou desde o Dauphine 1093 até a Formula 1 1.500 cm³ Turbo. Sua opinião técnica sobre o modelo era a seguinte: Hoje um sedã esporte tem no mínimo 50 cavalos a mais que seu similar na versão básica. O 1093 tinha 10 cavalos a mais que um Dauphine Gordini comum. O modelo tinha um conta-giros no porta luvas, e o motor tinha comando de válvulas e coletores de admissão e escape especiais. Mais nada. Por causa da pouca aderência, era instável e gostava de por as rodas viradas para o céu, ou seja, capotava facilmente. Devido a isso aprendia-se muito a dirigir neles.

No Rali Histórico de Monte Carlo em janeiro deste ano, um dupla participou com um 1093 de 60 cavalos. Partiram concorrentes de Reims (França) , Oslo (Noruega), Barcelona (Espanha) , Turin (Itália) e de vários outros países da Europa.

Foi neve em todo o percurso de 3000 quilômetros . Chegaram em Mônaco em 76º lugar entre 250 carros. O piloto ensina que o importante não é ter muitos cavalos a disposição e sim saber se servir do que está disponível.


Nos Ralis europeus, nas provas de Veículos Históricos de Competição, seja na França, Espanha, Bélgica, Itália, estão sempre presentes.

E vencem!

Existem vários clubes na França e em toda Europa que veneram o pequeno valente. E também no país vizinho Argentina.

Quarta Subida de Montanha da Região de Menton: Os motores superaqueceram! (Veículos Históricos de Competição)

No esporte – Em jogos de autobol, futebol onde os carros são os jogadores, eram usados Dauphines e Gordinis já em época de aposentadoria. Por terem frente e traseira curvas eram bons de ataque e defesa.

Nas telas – Na novela Carinhoso da TV Globo, o ator Cláudio Cavalcanti fazia papel de um professor de inglês que possuía um Gordini cujo apelido era Cacilda. No filme O Menino Maluquinho um exemplar de cor vermelha muito bem conservado aparece também.

Shows – Esses carrinhos simpáticos eram muito usados em shows de acrobacia realizados em autódromos antes das provas ou em outras promoções.

Cotação – O Dauphine Berline 1093 ano 1962-1963 tem a cotação mais alta de todos no mercado europeu. Por volta de 2700 dólares.


Ficha Técnica

Renault Dauphine

• Motor VENTOUX tipo 670-1 refrigerado a água
• Cilindrada: 845 cm³
• Potência máxima: 31 Cavalos
• Rotação máxima: 4.700 rpm
• Taxa de compressão: 7,71:1
• Capacidade de óleo: 2,5 litros
• Capacidade de água: 4,2 litros
• Comprimento: 3,95 metros

 Renault Gordini

Cilindrada:  845 cm³, Potência máxima:  40 Cavalos, Rotação máxima:  4.700 rpm, Taxa de compressão: 7,71:1, Capacidade de óleo 2,5 litros, Capacidade de água: 4,2 litros

Renault 1093 – Potência máxima: 53 Cavalos, Taxa de compressão: 9,2:1, Capacidade de água :4,6 L, Rotação máxima: 5.600 rpm. Não foi produzido no Brasil


Recorde

Com Nicolas Prost pilotando, filho do tetra campeão mundial de Fórmula Um Alain Prost, este pequeno bateu o recorde da categoria CGC/I (carros de passeio a gasolina fabricados entre 1948 e 1981). Conseguiu 122,3 km/h. O exemplar tem preparação de época e teve sua cilindrada aumentada de 845 cm³ para 965 cm³. Por isso que nas portas está 956. Category C: Classic 1948 to 1981 Coupes and Sedans CGC . Isso aconteceu em 2016

Veja Alain Prost e seu filho Nicolas com o projeto Dauphine e correndo no lago salgado de Bonneville Salt Flats (Salt Lake City) no estado de Utah nos Estados Unidos. Clique para ver o vídeo abaixo.

Renault Classic: Alain Prost and his son Nicolas Prost on a terrific project with a Dauphine


Texto, fotos Retroauto e montagem Francis Castaings. Fotos sem o logo Retroauto são de publicação do site                                                                                        

© Copyright – Site https://site.retroauto.com.br – Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução de conteúdo do site sem autorização seja de fotos ou textos.

Acesse o site Retroauto na versão anterior

Volte a página principal do site