O Esportivo da Faculdade – Desenho arrojado, original e ótimas soluções: O Lavínia FEI-X3

O Esportivo da Faculdade – Desenho arrojado, original e ótimas soluções: O Lavínia FEI-X3

ara criar um bom automóvel, um carro esportivo, era necessário mão de obra qualificada, bem técnica, bons alunos, e um instrutor experiente e de ótima formação em engenharia.Este homem era Rigoberto Soler. Nasceu na Espanha em 1926, mas se naturalizou brasileiro, foi “o professor” e um do primeiros  projetistas do Brasil. Trabalhou na Vemag, e o projeto do Brasinca Uirapuru (saiba mais) também era dele.O nome Lavínia, foi uma homenagem a esposa do prefeito de São Bernardo do Campo, que doou o terreno onde foi feito o campus da FEI. O esportivo foi apresentado no Salão do Automóvel de 1970, no Pavilhão do Anhembi, São Paulo. E fez muito sucesso! O grande engenheiro faleceu em 2004.

Para o setor de automóveis , a FEI  (Faculdade de Engenharia Industrial) sempre foi referência nacional em se tratando de engenharia automotiva. O curso de engenharia mecânica automobilística era muito bem conceituado, e tinha por tradição colocar na prática o que se aprende nas salas de aula. Foram vários projetos muito interessantes, mas o FEI-X3 se destacou dos demais. O chassi exclusivo do carro foi construído com tubos de aço. A carroceria, após a montagem, passava a fazer parte da estrutura do veículo. O esportivo tinha 4,3 metros de comprimento, 1,8 de largura, 1,1 metro de altura e 0,18 m de altura livre do solo. Pesava apenas 1.055 quilos. Era muito baixo e tinha ótima aerodinâmica.Seu coeficiente aerodinâmico (Cx)  foi testado em túnel de vento e era de apenas 0,32. Excelente para a época. Assim como o X-1 e X-2 o X vinha do inglês de Xperimental. O projeto X-1 com um grande hélice atrás e motor traseiro do Willys Dauphine/Gordini (Conheça) com duas marchas, uma para frente e outra para trás, dois lugares, duas rodas de aro pequeno na frente e duas do Gordini atrás. Depois veio o X-2, um modelo de hovercraft, veículo/barco que se desloca sem contanto com o solo ou  água sustentado por colchão de ar.Também conhecido como aerobarco ou aerodeslizador. Infelizmente este interessante projeto não teve desenvolvimento .

Contava com belas rodas de liga com 8 polegadas de largura na frente e 12 polegadas atrás e aro 14 de diâmetro. Tinha pneus radiais que garantiam boa estabilidade. Sua carroceria era muito moderna e tinha portas “asas de gaivota”. Era um carro para dois ocupantes. Sua carroceira tinha partes em aço estampado, plástico reforçado com fibra de vidro foi usado nas portas e no capô do motor. Mas para-choque, bico frontal dianteiro e traseiro em alumínio para absorção de choques. Baseado em estudos em carros conceitos existentes na Europa.

O FEI-X3 usava o mesmo bom e saudável motor do Dodge Dart (conheça)  , arrefecido a água, com oito cilindros em “V” a 90º e 5.212 cm³ (318) , dianteiro, taxa de compressão de 7,5:1, 198 cavalos à 4.400 rpm e ótimo torque de 41,4 mkg.f à 2.400 rpm. Era alimentado por um carburador de corpo simples e sobre este havia uma entrada de ar, um “scoop” para melhor respiração do motor. A intenção era de colocar um motor Dodge mais potente como o do Charger nacional, bem mais musculoso e com preparação mais refinada. Sua aceleração de 0 a 100 km/h e velocidade final estimada em 220 km/h não foi medida infelizmente

Tinha caixa de três velocidades no assoalho, a mesma que seria utilizada mais tarde no Dodge Dart SE. Sua tração era traseira. Uma curiosidade era ter dois tanques de gasolina com capacidade para 90 litros cada. O motor foi recuado em relação eixo dianteiro, com e mostra o scoop (acima). Este recurso foi utilizado para abrigar o carburador e filtro de ar . E nesta configuração eixo/motor dianteiro dava-lhe uma relação de peso dianteiro e traseiro quase ideal. Na frente 48% e atrás 52 % .

Inédito era seu freio aerodinâmico, que auxiliava nas frenagens rápidas em alta velocidade.

O freio era uma espécie de flap retangular (acima) como usado nos aviões, que ficava na parte superior traseira  da  capota do carro, levantava-se, aumentando a força de frenagem. Ele funcionava como freio auxiliar do freio convencional acionado por pedal, ao qual estava interligado. Quando o pedal era acionado de forma vigorosa entrava em ação. Nas laterais, abaixo das portas, era notável o duplo escapamento de cada lado. Os faróis dianteiros, três de cada lado tinham formato retangular e estavam inseridos no “bico”. As lanternas traseiras eram em posição vertical.

A suspensão dianteira era a mesma do Dodge Dart, da Chrysler, com barras de torção e amortecedores telescópicos de dupla ação. A suspensão traseira utilizava eixo rígido, tensores longitudinais, barra estabilizadora transversal e amortecedores telescópicos de dupla ação. Já as molas originais semi-elípticas foram trocadas por molas helicoidais. Os freios, servo-assistidos, eram a disco nas rodas dianteiras e tambor nas rodas traseiras.

O painel era muito completo. Tinha volante esportivo da marca Walrod de três raios, velocímetro graduado a honestos 200 km/h, conta-giros, amperímetro, medidor de temperatura de água, nível de combustível  e manômetro de óleo. Atrás da alavanca de marchas no console havia uma série de botões para controles diversos. Outro interessante detalhe era a abertura do capô na frente

Em 1972, o carro voltou a ser exposto no Salão do Automóvel nas cores verde, branco e dourado e alguns detalhes foram modificados.

Anos depois a faculdade passou por mudanças em sua estrutura organizacional Rigoberto Soler deixou o cargo de coordenador do DEPV (Departamento de Estudos e Pesquisas ).  O esportivo ficou dentro de um dos galpões da FEI por muitos anos para que não fosse alterado. Em meados dos anos 2000 foi recuperado.

O carro foi muito bem restaurado conforme sua última especificação, sob a supervisão do professor Ricardo Bock, coordenador do curso de engenharia mecânica automobilística da FEI.

Seus bancos não tinham regulagem e pessoas com altura maior que 1.75 tinha dificuldade em se acomodar. Ainda tinha alguns detalhes para tornar o projeto mais compatível com as ruas. A ideia era fabricar em pequena escala. Mais um projeto nacional muito interessante que não foi adiante. Seria uma grande mostra do potencial brasileiro  diante a indústria automobilística mundial. E nossa indústria estava entrando apenas na terceira década de produção!

Nota: O carro original era amarelo e o modelo das fotos foi apresentado em Águas de Lindóia em 2005 e no Forte de Copacabana em 2009.

Em Brasília, DF


Os trabalhos na escola

 Tudo artesanal e sem auxílio de computadores


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