Giovanni Agnelli “l’Avvocato”: O Imperador dos Automóveis
A Itália sempre foi considerada pelos entusiastas do mundo do automóvel como um dos países mais emblemáticos e importantes do planeta. O pequeno país em forma de bota é muito importante por causa de seus inúmeros pilotos, corridas muito famosas e desafiantes e empresas de renome. E uma das mais importantes é o Grupo Fiat e uma personalidade que foi sua presença maior durante os anos mais recentes foi Gianni Agnelli nascido em 12 de março de 1921. Era o segundo dos sete filhos de Edoardo Agnelli, conhecido como Edoardo II e sua mãe Donna Virginia Bourbon del Monte que tinha descendência nobre. Foi muito bem educado na infância pelos pais e frequentava ótimas escolas. Era neto de Giovanni Agnelli o fundador do Grupo Fiat em 1899 que o considerava especial. Era seu predileto.
O clã começou a ter muita importância na Itália do século XIX quando Edoardo Agnelli, o precursor, era um grande proprietário de terras. Muito rico não aproveitou bem a vida, pois morreu aos 49 anos. Sua esposa, Aniceta, muito determinada, cuidou das terras enquanto o filho Giovanni, avô de Gianni, foi estudar em boas escolas de Torino já que moravam não muito longe dali.
Serviu ao exército, teve boa formação, mas voltou a sua terra para trabalhar. E fez muito progresso já que era um entusiasta da mecanização que começava no tempo da revolução industrial. Fez boas amizades era astuto e tinha muito talento. Junto com oito personalidades entre nobres e homens poderosos fundou a que seria a mais importante marca italiana de todos os tempos. E logo se tornou o líder da empreitada. Abaixo Lingotto um distrito de Turim, Itália, assim denominado devido ao Edifício Lingotto, que foi uma enorme fábrica de automóveis Fiat
Em 1900 já estava erguida a primeira fábrica em Corso Dante onde trabalhavam 150 operários e o primeiro veículo com a marca Fiat, com cerca de cinco metros de comprimento, fazia seus primeiros testes entre cidades próximas transportando muita carga. Estava mais para um utilitário do que para um carro comum. Abaixo um Fiat Limousine 1923
Em 1902 Giovanni Agnelli já era o administrador geral da empresa. Neste ano, seu filho Edoardo II estava com 10 anos e serviria entre 1914 e 1918 na Primeira Grande Guerra Mundial como Oficial de Cavalaria. Já estava claro na família o patriotismo e o dever de servir a pátria. Abaixo um Fiat 4HP 1899
Após a guerra o Fiat Zero 12-15 HP era um compacto que fazia enorme sucesso na Itália. A empresa também já se firmava na construção de tratores e aviões estes devido ao sucesso bélico. Nesta época estava em construção a importante unidade de Lingotto no distrito de Torino. Abaixo um Fiat Tipo Zero 1912 .Foi desenhado por Battista “Pinin” Farina, tinha 6,9 litros, 12/15 cavalos e
Em 1920 a Itália não vivia um momento de paz civil devido a tensões sociais. Neste ano Giovanni Agnelli assumia a presidência do grupo que não parava de expandir. Já era referência também no setor siderúrgico e ferroviário. Os automóveis 2B e 510S, ambos com carroceria tipo torpedo, faziam sucesso junto com o 1T Táxi como carro de praça. Para os mais abastados havia o 520 Superfast, uma bela limusine com o habitáculo dos ocupantes de trás fechado e o 519 com 4.766 cm³, 80 cavalos de potência e velocidade final de 70 km/h. Abaixo um Fiat 1927 509 A
Já na metade dos anos 20 a empresa ia muito bem e 70 % da produção era exportada. Em 1935 tanto o filho quanto o pai, receberiam um grande golpe quando Edoardo II morreu ao ser decapitado pela hélice de um avião. Em 1943, seguindo a tradição familiar, Gianni foi voluntário na Segunda Grande Guerra Mundial onde lutou na Líbia e também na Rússia. Abaixo um Fiat 508S Balilla Sport ‘Coppa d’Oro’ 1934
Após a guerra, o comando da Fiat estava nas mãos de Vittorio Valleta. Este senhor muito sério e responsável era formado em contabilidade e um especialista em economia. Foi chamado pelo fundador da grande empresa de automóveis para ser diretor geral em 1928. Assumiu em 1945, pois para a tristeza da família, o grande Giovanni Agnelli falecia em 1945 aos 79 anos em 16 de dezembro. Este, antes de falecer, deu conselhos a Gianni que poucos avós s dariam a seus netos: – Viva a vida, aproveite todos os prazeres e depois assuma todas as responsabilidades de um trabalho.
Formou-se em direito, guardou seu diploma e foi viver com muito glamour e aproveitar os prazeres da alta sociedade europeia. Educado, cortês e muito culto, sabia muito bem apreciar o que era bom. Vivia com muito conforto e luxo, pois tinha uma bela quantia anual à disposição só comparável a de magnatas da época. Como o avô fez amizades importantes com o Príncipe Rainier de Mônaco e grandes nomes da vida cinematográfica e também do mundo milionário do petróleo. Nesta época a Europa era frequentada pela belíssima atriz americana Rita Hayworth, abaixo e esquerda e também pela não menos a sueca Anita Ekberg, a esquerda. Gostava de belos iates, futebol, entendia muito de artes e logicamente de belos carros.
Em 1952 dirigindo um Fiat esportivo especial teve um grave acidente perto de Saint Jean Cap-Ferrat na entre a Provença e a Costa Azul Francesa. Bateu contra um Lancia violentamente. Ficou seriamente ferido e graças à pronta assistência da irmã Susanna, que foi enfermeira na Segunda Guerra, as consequências não foram piores. Abaixo um Fiat Zagato cupê 1951
Teve a perna amputada e graças a bons médicos passou a usar uma prótese o que não o impedia de ser um exímio esquiador. Não se fazia de rogado, pois também adorava velejar e continuou a dirigir carros esportivos belos e rápidos.
No ano seguinte casava-se com a bela princesa Marella Caracciolo di Castagneto. Com muito charme e glamour, a cerimônia aconteceu no Castelo de Osthoffen na região da Alsácia na França. No ano seguinte nascia seu primeiro filho Edoardo Agnelli. Pouco depois sua filha Margherita Agnelli.
Em 1955 a bela atriz italiana Sophia Loren visitava as linhas de montagem do grande complexo fabril de Mirafiori inaugurado em 1939.
Era mais uma vez os amigos prestigiando e promovendo os produtos de Gianni. Era o lançamento do Fiat 600, acima. Abaixo um 1100 lançado em 1960
Neste mesmo ano adquiria um carro muito especial. Tratava-se de um Ferrari 375 AM América feita especialmente para ele. Era verde metálico com a estrutura do teto na cor vinho. Este era panorâmico e o vidro traseiro também se abria para baixo. Por dentro muito couro e instrumentação completa. Era um exemplar único e sua carroceria era obra de Battista Pininfarina de quem também era amigo. Abaixo a miniatura
Em 1959 outro carro único chegava a suas mãos. Era um Ferrari 400 Superamerica também com teto transparente, linhas belíssimas e exclusivas. Nesta época este play-boy de fino gosto era muito amigo de John e Jackie Kennedy. Gianni sempre transitava muito bem também nos meios políticos.
Em 1966, aos 45 anos, assumia a presidência do Grupo Fiat já que as regras do conselho eram muito rígidas e era hora de Valleta se aposentar após excelentes serviços. Tinha a seu lado um homem muito competente de bela carreira na casa. Era Dante Giacosa. Acima o Nuova 500 e abaixo o Fiat 128 que foi um sucesso
Era hora de responsabilidades, mas não deixava os prazeres de lado. Adquiria outra Ferrari única. Derivado do modelo Dino, sua 365 P tinha motor com doze cilindros em “V” e um aerofólio cromado. Outra característica muito interessante neste era o banco do motorista no meio da cabine, entre dois felizes passageiros.
Nesta época a linha de montagem das fábricas produziam o pequeno 500, o 600, o 850, acima um cupê, o 1100, o 1300, o 1500, o 1800 e o belíssimo 2300 S cupê. Tinha uma ampla gama, vendiam muito bem, mas alguns já necessitavam de serem renovados. Gianni frequentava as linhas de montagem e também todos os salões importantes na Europa. Quando ia a França sempre encontrava com o presidente Charles De Gaulle, abaixo num Citroën DS.
Também neste ano a Fiat se expandia, assinando um contrato muito importante com a Vaz, em Toliatigrad, as margens do Rio Volga, na Rússia, para a fabricação de um novo carro. Ali seria produzido por anos o Fiat 124, que se chamaria lá Lada . Este modelo também seria produzido na Espanha, na Turquia, no Marrocos e na Índia. Lá AZ-2101 (Lada 1200), VAZ-2103 (Lada 1500), e VAZ-2105 / VAZ-2107 (Lada Riva). Abaixo o Laika
Chegava à década de 70 e a Fiat já era proprietária das marcas Ferrari, Alfa Romeo, Lancia, Maserati e Autobianchi. Dominava o mercado italiano e tinha muito destaque no europeu. O grupo ainda investia pesado na produção de vinhos famosos, hotelaria e era dono dos principais jornais italianos. Investia também muito dinheiro na restauração de palácios, igrejas e museus. A diversificação era uma ordem para Gianni, mas tendo como princípio a produção de bons automóveis. Abaixo o Fiat 130
Nestes anos enfrentaria a crise do petróleo e também problemas com os sindicatos fortes em sua terra natal. Com mão firme e cabeça no lugar soube vencer os desafios como um empresário forte e decidido. Conversava e argumentava com muita propriedade tanto com Enzo Ferrari quanto com Henry Kissinger.
Em 1973 saia das linhas de montagem o primeiro carro com tração dianteira da Fiat. Uma guinada de sucesso para o futuro, o Fiat 127, acima, fez escola e preencheu as ruas do mundo. Como bom propagandista de seus produtos, Gianni, acostumado a belas máquinas, circulava, ele mesmo dirigindo, um 127 pelo difícil trânsito de Roma. Tinha hábitos muito refinados, mas também era simples. As vezes muito extravagante. Usava o relógio de pulso preso a manga da camisa não tendo contato direto com o corpo. Este foi um dos motivos que o fez “garoto” propaganda de uma famosíssima marca de relógios suíços.
Veio ao Brasil em 1976 para inaugurar a fábrica de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte em Minas Gerais. Junto com o presidente Ernesto Geisel hastearam as bandeiras da Itália e do Brasil marcando o início da produção de um carro que fez muito sucesso aqui. O modelo pequeno 147 gerou uma grande família e fez história em nossa terra. Abaixo o Fiat 132
Conhecido na Itália como l’Avvocato, ou seja, o Advogado foi nomeado senador em 1991. Seguia a tendência política de seus ancestrais.
Infelizmente a saga de fatalidades familiares continuava. Em 1997 perdia seu sobrinho Giovanni Agnelli, cujo apelido era Giovannino. Era filho de seu irmão Umberto e tinha um raro câncer e apenas 33 anos. Três anos depois mais um ferimento terrível para a família. Seu filho Edoardo, abaixo, cometia suicídio.
No dia 24 de janeiro de 2003, morria de câncer o homem que soube viver muito bem os prazeres da vida assim como ser um dos empresários mais bem sucedidos do planeta durante trinta anos a frente de um dos maiores conglomerados do mundo. Junto com a família, colocou a Itália como um dos países mais prósperos e famosos do mundo. Abaixo com Luca di Montezemolo
Neste mesmo ano, a escuderia Ferrari de Fórmula Um, em homenagem a este homem muito tenaz, que era comparado a um chefe de estado, batizou um de seus modelos de pista como F2003-GA. Uma justa homenagem.
Sua coleção de carros
Um Rolls-Royce Phanton
Um de seus preferidos era o Fiat 1500
Um Fiat Dino V6 que usava o mesmo motor do Dino 246 e do Lancia Stratos
Um Ferrari F40
“O que é escrito sem esforço é lido sem prazer”
Texto, Fotos e montagem Francis Castaings. Demais fotos de divulgação no site
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