Jacques Bernard Ickx: Triunfante em qualquer categoria
Difícil dizer qual país no mundo tem mais tradição automobilística. O movimento mecânico sobre quatro rodas começou quase ao mesmo tempo nos Estados unidos quanto na Europa. E nesta a tradição não se limita apenas a Itália, França, Alemanha e Inglaterra.
O pequeno país que se situa ao norte da França que é muito conhecido pelas melhores cervejas do mundo e chocolates tem grande tradição industrial e muitos homens importantes que fizeram histórias nas pistas locais e também no restante do mundo. A Bélgica, cuja capital é a charmosa Bruxelas, tem uma história muito interessante no mundo dos automóveis. No princípio do século XX foi formada pelos irmãos De Jong a Empresa Minerva Automobiles que fabricou carros muito interessantes e com motores sem válvulas. Seus autódromos são místicos até hoje e muito tradicionais.
Spa-Francorchamps que originalmente tinha 14,98 quilômetros de extensão teve sua primeira prova em 1924. E até hoje traz encantos e tem um grande número de admiradores seja dos fãs das arquibancadas ou quem enfrenta seu asfalto desafiador.
Outro de menor quilate, mas que fez parte do cenário mundial foi Zolder inaugurado em 1963. Outra prova, na modalidade de rali que fez muito sucesso nos anos 50 e 60 foi o Rali Liège-Roma-Liège que sempre foi desafiador e reuniu carros e pilotos famosos.
Porém o piloto de maior renome da história da Bélgica é Jacques Bernard Ickx conhecido no mundo inteiro como Jacky Ickx e nascido em 1ª de janeiro de 1945 na capital Bruxelas. Começou a vida no esporte a motor em provas de Trial. O pai Jacques era jornalista especializado no ramo automobilístico, fazia cobertura das provas e sempre levava o filho com ele. O pai chegou inclusive a disputar provas de rali a bordo de um Jaguar XK 120. O mesmo lhe presenteou em 1961 com uma moto Zundapp de 50 cm³. Não demorou e o jovem Jacky era campeão belga de Trial em 1963 e depois em 1965. Ainda nesta fase, já maior de idade começou a fazer provas de subida de montanha a Gîves Hill Climb em 1963 com um BMW 700 S.
No ano seguinte disputou a mesma com um Ford Cortina Lotus e com um Hillman Imp. Neste mesmo ano disputava o Grande Prêmio de Budapeste outra vez com um Ford Cortina Lotus.
Começava a ter muita experiência nas provas de turismo e começou a enfrentar as de longa duração como as 24 Horas de Spa com um Ford Mustang em 1967.
No mesmo ano venceu as 24 h Spa-Francorchamps que era outra prova, em dupla Hubert Hahne a bordo de um BMW 2000 TI (acima).
Neste mesmo ano faria sua estreia numa prova importantíssima e que marcaria muito sua carreira: As 24 Horas de Le Mans. Seu co-piloto era o alemão Jochen Neerpasch e estavam a bordo de um Ford GT-40 MK1 da equipe Essex Wire Corporation. O carro teve problemas mecânicos e completaram apenas 154 voltas.
Neste mesmo ano mostrou muito talento com um Matra MS5 Fórmula Dois no Grande Prêmio da Alemanha e encantou o empresário Jean-Luc Lagardére proprietário da Matra (Mécanique Aviation TRAction) . Andou muito forte e na frente de gente com muita experiência. Foi notado por ninguém menos que Enzo Ferrari. Mas ainda não tinha contrato com a fábrica e correu As Nove Horas de Kyalami na África do Sul a bordo de um Ferrari 275 P pela famosa equipe belga Francorchamps. O modelo era uma evolução do 250/275/330 P Spider que correu em 1963 e 1964. Abaixo um Ferrari 250 LM
O ano de 1967 seria muito importante para a carreira do jovem belga de 22 anos. Ganhava o Campeonato Europeu de Fórmula Dois com um Matra MS 5 francês e estrearia na Fórmula Um pilotando um já antiquado Cooper-Maserati T81B, mas conseguiu fazer milagres ficando em sexto e conquistar seu primeiro ponto em setembro em Monza na Itália.
E lá estavam grandes como Denny Hulme, Jack Brabham, Jim Clark, John Surtees, Chris Amon, Pedro Rodriguez, seu companheiro de equipe e ainda Graham Hill, Dan Gurney, Jackie Stewart, Jochen Rindt e Bruce McLaren.
Em 1968 entrava na Escuderia Ferrari como piloto oficial tendo como neo-zeolandês Chris Amon. Em julho, no Grande Prêmio da França, em Ruen, Jacky Ickx ganhava sua primeira corrida na Fórmula Um e terminaria o campeonato em quarto atrás de Graham Hill, Jackie Stewart e Denny Hulme.
Em 1969 seria um ano muito especial na carreira do belga. Na Fórmula Um ele venceria em Nürburgring pilotando uma Brabham-Ford. Tornaria a ganhar no Canadá e ficou com o vice-campeonato num ano que o escocês Jackie Stewart dominaria com a Matra-Ford. Porém uma das corridas mais emocionantes do Mundial da Marcas aconteceu em Le Mans. A equipe John Wyer Automotive Engineering entregaria a Jacky Ickx e ao inglês Jackie Oliver um Ford GT40 Mk.I equipado com o motor Ford V8 de 4,9L .
Foi uma corrida disputadíssima e a dupla venceu o Porsche 908 do alemão Hans Herrmann e do francês Gérard Larrousse sendo que o bólido de Ickx chegou à frente dele apenas há 2 segundos, a 120 metros. Ambos os carros foram os únicos a completar 372 voltas no circuito de Sarthe. Neste ano o GT-40 já era considerado um carro obsoleto e desacreditado. O 908 já estava acertado, o Porsche 917 estreava e fazia ainda muita presença o Ferrari 512 S (abaixo) e o Matra 650.
Valeu a tenacidade, a competência, combatividade dos pilotos e a robustez do carro. Com o mesmo carro a brilhante dupla venceu as 12 Horas de Sebring nos Estados Unidos. Para completar a polivalência correu com um Mercury Cyclone na prova Nascar Daytona 500 também neste ano.
Em 1970 Ickx estava na Ferrari Fórmula Um pilotando o modelo 312 B e ganharia sua primeira corrida este ano no Grande Prêmio da Áustria disputado em Zeltweg. Acima um 312B2 de 1971
Tornaria a vencer no Canadá em Mont-Tremblant e depois no México. Outra vez seria o vice-campeão, pois Jochen Rindt havia sido declarado o campeão Post-Mortem graças a vitória de Emerson Fittipaldi em Watkins Glen nos Estados Unidos. No Campeonato Mundial de Marcas pilotou o combatente Ferrari 512S (abaixo) nas 24 Horas de Daytona 1970 num ano que foi dominado pelo Porsche 917.
Em 1971 ganhava Grande Prêmio da Holanda em Zandvoort num ano dominado pelo escocês Jackie Stewart e seu imbatível Tyrrell-Ford. Stewart ganhou quase todas as corridas a exceção do belga, do francês François Cevert e do suíço Joseph Siffert e do inglês Peter Gethin.
Em julho de 1972 foi o ano da Lotus 72 de Emerson Fittipaldi, mas Ickx em julho ganhou o Grande Prêmio da Alemanha em Nürburgring com a Ferrari. Por conta de boas pontuações tornava a tirar o quarto lugar geral no campeonato. No Campeonato Mundial de Marcas ganhava As Seis Horas de Watkins Glen nos Estados Unidos, e também neste país a prova de Sebring ambas com Mario Andretti. Na Europa ganhava em Monza com o grande Clay Regazzoni e também na Áustria com o inglês Brian Redman com o belo Spider Ferrari 312PB. Era um carro do Grupo 5 projetado por Mauro Forghieri com doze cilindros em “V” e 2.991 cm³ que produzia 450 cavalos a 11.500 rpm. Apesar das boas colocações e mudanças de regulamento foi um ano dominado pela Matra-Simca MS 670. Abaixo no Grande Prêmio Histórico de Mônaco está o famoso Ferrari 312 B nº4 do grande belga.
No ano seguinte Jacky Ickx tinha como companheiro na Fórmula Um o italiano Arturo Merzario e foi um ano extremamente fraco para os pilotos e para e equipe. Quanto ao Campeonato de Marcas ganhava em Nürburgring e com a Ferrari em casa na Itália para a alegria dos italianos.
Em 1974 estava na Lotus-Ford e não ganhou nenhuma prova ficando com um modesto décimo lugar no campeonato. Felizmente fez a alegria dos patrícios ganhando em Spa- Francorchamps junto com o francês Jean-Pierre Jarier num Matra-Simca MS670C da Equipe Gitanes. Também com doze cilindros este bi-campeão foi um sucesso.
Em 1975 outro ano péssimo para a Lotus na Fórmula Um, mas muito bom para Ickx que ganhava outra vez As 24 Horas de Le Mans. A prova não fazia mais parte do calendário oficial, mas mantinha seu glamour. Pela Gulf Racing, junto com o inglês e amigo Derek Bell, Ickx ganhou sua segunda prova com um Mirage GR8 com motor Ford Cosworth DFV(Double Four Valve) de 3,0 Litros e oito cilindros em “V”. E disputou as provas dos 1000 Quilômetros de Mugello 1975 e de Spa com um Alfa Romeo 33TT 12.
Abaixo duas gerações de Pilotos Ferrari
O grande piloto belga Jacky Ickx, que exibe no braço esquerdo o número de vitórias em Le Mans…
Em 1976 ganharia pela terceira vez consecutiva a prova francesa desta vez com o espetacular Porsche 956 da equipe Martini Racing junto com o holandês Gijs van Lennep. Neste ano ainda venceu em Imola com o carro alemão e na Fórmula Um estava com o fraco Ensign N176.
Tornou a ganhar a prova em Le Mans em 1977 com um Porsche 936 Turbo 77 junto com o alemão Jürgen Barth e o americano Hurley Haywood. Era a 45ª edição da prova e ainda este ano tornava a ganhar na Inglaterra em Silverstone.
Em 1977 e 1978 fez temporadas fracas em ambas as categorias, mas em 1979 tornava a surpreender ganhando o campeonato americano canadense: O famoso CAN-AM pilotando um Lola T333CS da Hass Racing. Um de seus concorrentes era o velocíssimo Keke Rosberg e também Alan Jones. Ganhou as provas de Charlotte, Mosport Park, Elkhart Lake, Brainerd e fechou em Riverside. Venceu seis das dez provas. Um Show!
Dedicou-se a ela, deixou a Fórmula Um e fez bonito para os americanos com muita dedicação.
Em 1981 e 1982 tornou a vencer com o amigo Derek Bell as 24 de Le Mans com um Porsche 936. E neste ano foi campeão mundial de pilotos pelo Campeonato Mundial de Marcas. Ainda em 1981 fazia seu primeiro rali de longa duração, o temível Paris-Dakar com um Citroën CX 2.4GTI (acima) e em 1982 fez a prova africana com um Mercedes 280 GE. Em foi em 1983 tendo como co-piloto o ator Claude Brasseur que venceu com muita garra as dunas tendo concorrentes famosos.
Fazia ainda várias provas no Dakar e hoje participa de várias provas históricas como Mille Miglia 2005 a bordo de um Alfa Romeo 6C 1750 1930, a edição da mesma com um Porsche 550 RS, a prova histórica de Mônaco com um Ferrari 312 B2 antigo conhecido, com uma Ferrari-Lancia D50 no famoso e glamouroso Goodwood Festival of Speed em 2006 e em 2009 no mesmo templo com um Auto Union Type D 1938.
Muito famoso e respeitado no meio é comumente chamado de Monsieur “Le Mans” devido ao enorme sucesso em território francês e ganhou da famosa empresa de relógios de prestígio Chopard uma homenagem com um belo modelo esportivo de pulso. Foi reconhecido também com um mestre em pilotagem na chuva e uma chicane em Zolder tem seu nome. Em Amelia Island em 2022
Casou-se com Catherine Blaton e depois com Maroussia Janssen. Do primeiro casamento nasceram Vanina e Larissa e de seu segundo foram Romain, Joy e Clément.
Acompanha de perto a carreira da filha Vanina que como ele já fez o Dakar e correu pela Audi no campeonato alemão de carros de produção em série DTM (Deutsche Tourenwagen Masters). Muito respeitado no meio e com muitos amigos é muito difícil ter um piloto na atualidade com tantos triunfos e ter pilotado tantos carros de diversas categorias. Um Belga extraordinário!
A bela Vanina. Também rápida e de tirar o fôlego!
C’était un rendez-vous
Claude Lelouch é um cineasta francês que ficou mundialmente famoso pelo filme Um Home e um Mulher de 1966 e estrelado por Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant. Para quem gosta de carros (Ford Mustang) e um bom filme merece ser visto. Em 1976 fez um curta metragem nas ruas de Paris de tirar o fôlego. Quem vê acha espetacular, pois não há trucagem e é um piloto profissional que dirige o carro com o pé embaixo. As cenas foram copiadas em outras fitas. Pensava-se primeiramente que o carro era um Ferrari 275 GTB por conta do belo ruído do motor V12, mas na verdade era um Mercedes-Benz 450 6,9 litros de cilindrada, cujo proprietário era Lelouch com potência suficiente para fazer bonito também;
Não se sabe até hoje quem pilotou, mas dizem que a obra foi ajudada por Jean-Pierre Beltoise, Jacques Laffite, Jean Ragnotti ou Monsieur Jacky Ickx… Digite C’était un rendez-vous em um bom site de procura e veja as cenas espetaculares.
Por onde foi? Veja o filme espetacular
Durante uma prova do Mundial de Marcas em 1970.
Personalidades: Pierre Fillon (atual Presidente do L’Automobile Club de l’Ouest, órgão organizador da prova), A Princesa Charléne de Mônaco (deu a bandeirada de largada), Hurley Haywood (Três vezes campeão em Le Mans) Jean Todt (Ex-Presidente da Federação Internacional de Automobilismo e diretor executivo que faz parte do quadro de conselheiros da Escuderia Ferrari na Fórmula 1) , Jackie Oliver (Campeão das 24 Horas de Le Mans em 1969, após uma lendária final com o companheiro de equipe Jacky Ickx. Em 1971, ele também ganhou as 24 Horas de Daytona, os 1.000 km de Spa-Francorchamps e os 1.000 km de Monza com Pedro Rodriguez, pilotando um Porsche 917 e Jacky Ickx (seis vitórias em Le Mans)
Texto e montagem Francis Castaings. Fotos das Organizações Peter Auto e demais publicadas no site.
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